Reservas no clássico? Há 20 anos isso não foi problema para o Botafogo contra o Flamengo

Na edição de 1997 do Campeonato Carioca o Glorioso, dirigido por Joel Santana, foi campeão. Na Taça Guanabara, uma vitória de 1 a 0 sobre o rival entrou para a história

Jair Ventura - Botafogo x Nova Iguaçu
(Celso Pupo/Fotoarena/Lancepress!)

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Envolvido na Copa Libertadores, o Botafogo deverá escalar reservas no clássico de domingo contra o Flamengo. Para a maioria dos torcedores isso pode significar derrota certa do Glorioso. Porém, essa mesma história aconteceu há 20 anos, em 26 de março de 1997, e o desfecho não foi ruim para os botafoguenses.

Naquela época o Campeonato Carioca era muito mais valorizado e a rivalidade entre os quatro grandes clubes do estado estava em alta por conta de provocações envolvendo Romário e Túlio Maravilha, por exemplo, e pelo gol de barriga de Renato Gaúcho, no Fla-Flu que havia decidido o Estadual de 1995. O Vasco também ajudava a colocar polêmica neste caldeirão, principalmente pelas entrevistas de Eurico Miranda, então vice-presidente de futebol.

A edição de 1997 transcorria normalmente com o Botafogo, dirigindo por Joel Santana, sobrando em campo. O Glorioso ganhou os dez primeiros jogos e se garantiu para a final (O regulamento previa a decisão entre os dois primeiros colocados). A última rodada da fase de classificação marcava o clássico entre Flamengo e Botafogo para uma quarta-feira, 26 de março, que antecedia à final de domingo. Já garantido, o Alvinegro optou por usar seus reservas e aí que a confusão começou...

Interessado em uma derrota do Flamengo para ir à final contra o próprio Botafogo, o Vasco reclamou. Eurico Miranda deu diversas entrevistas criticando a diretoria botafoguense e as acusações sobraram até para Joel Santana. Treinador do Vasco, Antônio Lopes também girou a metralhadora contra os botafoguenses. O fato irritou José Luiz Rolim, presidente alcinegro, que demitiu Junior Lopes, filho do técnico do Vasco e que trabalha nas categorias de base botafoguense.

Enfim chegou o dia do jogo e a cidade tratava a partida como um filme que todos sabiam o final. O público, pouco superior a 17 mil pessoas, refletia essa expectativa. Os flamenguistas falavam em "guardar ingresso para a final". Já os botafoguenses alegavam que não iriam ao estádio para ver "o time perder".

Quando o jogo acabou, Eurico Miranda, em entrevista a emissoras de rádio do Rio de Janeiro, seguiu criticando a diretoria botafoguense.

- A atitude deles foi errada. Porém, os jogadores do Botafogo mostraram dignidade em campo e estão de parabéns - disse Eurico.

Joel Santana também usa a palavra dignidade sempre que fala daquele jogo.

- O Botafogo jogou com honra e com dignidade. Em nenhum momento entramos em campo para perder e isso foi visto em campo - disse Joel.

No domingo seguinte, Botafogo e Vasco decidiram a Taça Guanabara. Mesmo com a vantagem do empate, o Glorioso ganhou mais uma, graças a um gol do zagueiro Gonçalves, assegurando o caneco. O título estadual, três meses depois, seria confirmado em uma outra decisão com o mesmo Vasco, que ficou marcado pela "rebolada" do atacante Edmundo.
Curiosamente, neste domingo, com Antônio Lopes agora na diretoria, o Glorioso pode voltar a escalar a equipe reserva em um clássico contra o Flamengo. Qual será o desfecho dessa vez?


O JOGO

Os reservas do Botafogo, sob os olhares na arquibancada dos titulares, começaram a partida conseguindo se impor diante de um Flamengo apático, que dava a impressão de acreditar que venceria a partida a qualquer momento. Não foi o que se viu em campo. Logo no primeiro lance de perigo Serginho cruzou e Zé Carlos, o Zé do Gol, dividiu com o goleiro Fábio Noronha.

Completamente dominado, o Flamengo sofreria o único gol da partida aos 25 minutos, quando Serginho tabelou com Renato Carioca, que acertou um belo chute de fora da área. O impossível começava a ganhar vida no Maracanã.

Sem sequer ter Joel Santana no banco, já que o auxiliar Valinhos quem dirigiu o time, o Botafogo poderia ter ido para o intervalo com um placar ainda maior, pois Zé Carlos recebeu na área e chutou para grande defesa de Fábio Noronha. Neste momento o Rubro-Negro já tinha apenas dez homens em campo, pois o volante argentino Mancuso foi expulso ao se envolver em uma confusão com Serginho, que simulou agressão, levando ao árbitro Ubiraci Damásio a advertir o flamenguista com o cartão vermelho.

O segundo tempo foi uma continuação do primeiro, porém, com o Flamengo tentando ser mais presente no ataque, principalmente depois que Renato Carioca foi expulso, igualando a situação. Mas a falta de inspiração dos flamenguistas tornava a situação complicada para o time da Gávea. No último lance da partida, Romário, livre na área, chutou para fora.

O então presidente do Flamengo na época, Kléber Leite, resumiu a atuação do Flamengo.

- Pior impossível - disse ele.

O fato é que naquela noite os torcedores botafoguenses, cutucando o rival, deixaram o Maracanã gritando "P.. que pariu, segundo turno eu vou entrar com o juvenil". Histórias de uma época em que o Campeonato Carioca ainda era muito valorizado.

FICHA TÉCNICA
BOTAFOGO 1 X 0 FLAMENGO

Local: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Data: 26/3/1997
Árbitro: Ubiraci Damásio
Renda: R$ 176.560,00
Público: 17.024 pagantes
Cartões vermelhos: Renato Carioca (Botafogo) e Mancuso (Flamengo)
Gols: Renato carioca (1-0, 25´/1,ºT)

BOTAFOGO: Alex, Bruno Carvalho (Arcelino), Grotto, Marcelo Augusto e Alexandre Seixas; Alemão, França, Zé Carlos (Cidiclei) e Renato; Róbson (Cleiton) e Serginho.
Técnico: Valinhos

FLAMENGO: Fábio Noronha, Fábio Baiano, Júnior Baiano, Fabiano e Athirson (Leonardo Inácio); Mancuso, Bruno Quadros, Lúcio (Maurinho) e Iranildo (Marco Aurélio Jacozinho); Romário e Sávio.
Técnico: Júnior

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