Portella: ‘Tozzo, Ceni e o inefável’

Novo técnico do São Paulo e presidente em exercício da Chapecoense foram bem em suas entrevistas nesta semana. Colunista do LANCE! analisa

O técnico Rogério Ceni, em sua apresentação nesta quinta-feira
(Foto: Bruno Ulivieri / Raw Image/Lancepress!)

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Ceni surgiu na bancada de entrevistas com ar mais sereno do que antes, rosto mais descansado, desanuviado e segurança de propósitos.

Falou pausadamente sem assomos de soberba, distanciando-se do atleta que possuía uma certa arrogância inelutável. Era um outro Rogério.

Já em entrevista anterior havia priorizado fala que reiterou com convicção: “ A parte mais importante da tarefa (de treinador) é gerenciar pessoas”. Bingo!
Ceni trouxe um técnico promissor da Inglaterra, bom currículo, especialista também na parte tática, que tem seu papel de relevo, sem dúvida. Contudo, destacou a preponderância da condição humana.

Além disso, a permitir que esperemos algo altaneiro, bem diferente do que predomina por aí, Ceni concluiu: “ Vim em busca da glória”. Perfeito. Não foi dissimulado como tantos, que escondem o ego atrás do púlpito. Justa medida. Precisamos procurar o “melhor possível”, com seriedade. É isso que muda o mundo. Ainda que um pouco. Ceni não vem para ser um qualquer. Vem em busca do inefável!

Ivan Tozzo, o novo presidente da Chape, com ar sóbrio e verdadeiro, sem as dramáticas manifestações exaltadas, que alguns fizeram ao enfrentar os fatos da tragédia, sem crise de protagonismo, deu entrevista alentadora à "Folha de S. Paulo", entoando um hino de precisão sobre a forma correta de retornar ao ponto ao qual a Chape havia se alçado. Ele mostrou que o sucesso da Chape foi fruto de conceitos permanentes, de uma forma de ser, atitude que ele vai preservar. Mostrou convicção nos valores.

Rechaçou objetivamente a imunidade quanto ao rebaixamento, advogada externamente, que é a máxima expressão brasileira do modo errado de tratar as coisas: o “coitadismo” a levar aos privilégios. Tentar resolver as coisas não com o “trabalho de construção”, mas com concessão de favores. Assacados na emoção. Se os clubes vão emprestar jogadores a Chape, o que é justo e lícito, se ela terá uma equipe, por que a tornar um “café com leite” no campeonato? Isso não ajuda quem sofreu, nem ergue uma instituição. A contribuição deve impulsionar, não se tornar assistencial. Assistência cabe sim as famílias dos atletas. A Chape precisa de oportunidade. Tozzo foi formidável: “Não seria adequadamente moral exigir que os clubes nos mantivessem sem disputa”. Tem noção de grandeza. Raro.

Tozzo vai em direção do inefável.

A palavra é sinônimo de inesquecível. Só que na arte não se refere à memória. Inefável é a condição de uma obra-prima, um feito fabuloso. Inefável é que nos resta tentar diante de tantas desilusões onde vivemos.

Que Tozzo e Ceni sejam bem sucedidos!

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