Portella: ‘Tozzo, Ceni e o inefável’
Novo técnico do São Paulo e presidente em exercício da Chapecoense foram bem em suas entrevistas nesta semana. Colunista do LANCE! analisa
Ceni surgiu na bancada de entrevistas com ar mais sereno do que antes, rosto mais descansado, desanuviado e segurança de propósitos.
Falou pausadamente sem assomos de soberba, distanciando-se do atleta que possuía uma certa arrogância inelutável. Era um outro Rogério.
Já em entrevista anterior havia priorizado fala que reiterou com convicção: “ A parte mais importante da tarefa (de treinador) é gerenciar pessoas”. Bingo!
Ceni trouxe um técnico promissor da Inglaterra, bom currículo, especialista também na parte tática, que tem seu papel de relevo, sem dúvida. Contudo, destacou a preponderância da condição humana.
Além disso, a permitir que esperemos algo altaneiro, bem diferente do que predomina por aí, Ceni concluiu: “ Vim em busca da glória”. Perfeito. Não foi dissimulado como tantos, que escondem o ego atrás do púlpito. Justa medida. Precisamos procurar o “melhor possível”, com seriedade. É isso que muda o mundo. Ainda que um pouco. Ceni não vem para ser um qualquer. Vem em busca do inefável!
Ivan Tozzo, o novo presidente da Chape, com ar sóbrio e verdadeiro, sem as dramáticas manifestações exaltadas, que alguns fizeram ao enfrentar os fatos da tragédia, sem crise de protagonismo, deu entrevista alentadora à "Folha de S. Paulo", entoando um hino de precisão sobre a forma correta de retornar ao ponto ao qual a Chape havia se alçado. Ele mostrou que o sucesso da Chape foi fruto de conceitos permanentes, de uma forma de ser, atitude que ele vai preservar. Mostrou convicção nos valores.
Rechaçou objetivamente a imunidade quanto ao rebaixamento, advogada externamente, que é a máxima expressão brasileira do modo errado de tratar as coisas: o “coitadismo” a levar aos privilégios. Tentar resolver as coisas não com o “trabalho de construção”, mas com concessão de favores. Assacados na emoção. Se os clubes vão emprestar jogadores a Chape, o que é justo e lícito, se ela terá uma equipe, por que a tornar um “café com leite” no campeonato? Isso não ajuda quem sofreu, nem ergue uma instituição. A contribuição deve impulsionar, não se tornar assistencial. Assistência cabe sim as famílias dos atletas. A Chape precisa de oportunidade. Tozzo foi formidável: “Não seria adequadamente moral exigir que os clubes nos mantivessem sem disputa”. Tem noção de grandeza. Raro.
Tozzo vai em direção do inefável.
A palavra é sinônimo de inesquecível. Só que na arte não se refere à memória. Inefável é a condição de uma obra-prima, um feito fabuloso. Inefável é que nos resta tentar diante de tantas desilusões onde vivemos.
Que Tozzo e Ceni sejam bem sucedidos!