Membro da Academia LANCE! traça panorama das novas arenas no Brasil

Fernando Trevisan analisa os ganhos do futebol brasileiro com as novas praças esportivas e mostra o que ainda falta para que país alcance patamares europeus

Allianz Parque - final Copa do Brasil (FOTO: Russel Dias)
Allianz Parque  cheio na final da Copa do Brasil de 2015 (FOTO: Russel Dias)

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Fernando Trevisan, diretor-geral da Trevisan Escola de Negócios e membro da Academia LANCE!, traça um panorama das novas arenas no Brasil: 

Uma das principais queixas do público do futebol alguns anos atrás era a qualidade dos nossos estádios. Desconfortáveis, inseguros, com visibilidade ruim e distantes do campo de jogo, essas instalações definitivamente não contribuíam para tornar a ida ao estádio numa opção de lazer para a família. Eis que com a confirmação da Copa do Mundo no Brasil teve início no final de 2013 a nova  geração de estádios no País, de alto padrão e bem mais modernos, ainda que com pelo menos 15  anos de atraso em comparação com a Europa e os Estados Unidos.

Com três anos de operação destes novos estádios é possível tirar algumas conclusões sobre o  impacto desta mudança para a indústria do futebol e do entretenimento, principalmente em três aspectos: capacidade de aumentar a média de público nos estádios; tornar-se uma poderosa fonte de receita para o clube/operador; transformar a qualidade da experiência do torcedor.

Assim como as salas de cinema no Brasil, que tiveram um expressivo aumento de público depois que passaram a ter um outro padrão de conforto e qualidade, o mesmo parece acontecer com a presença de torcedores nos estádios, ainda que de forma bem mais tímida. Se o número de ingressos vendidos nos cinemas aumentou 73% nos últimos 10 anos segundo a Agência Nacional do  Cinema, essa mesma curva de crescimento não se viu no público médio do Campeonato Brasileiro de 2015, que foi apenas 28% superior a 2012, ano anterior ao início de operação das primeiras novas arenas. Ainda assim, a média de público das novas arenas foi 135% maior do que a dos estádios antigos, de acordo com estudo da BDO Brazil, o que mostra o efeito de atração que, dentre outras variáveis, tem um estádio de alto padrão.

Não por acaso, dos 10 times com maior média de público no Brasileirão de 2015, apenas um (São Paulo FC) atuou em estádio antigo. Por consequência, os clubes proprietários de novos estádios, como Atlético-PR, Corinthians, Grêmio,
Internacional e Palmeiras, passam a ter um potencial bem interessante de geração de receita nova e até de se destacar economicamente dos outros clubes. Além do efeito direto de aumento da bilheteria mesmo com preço de ingresso 67% mais alto do que o aplicado nos estádios antigos, há também para o clube uma possibilidade clara de gerar mais interesse por seus programas de sócio-torcedor, dado que esta modalidade permite vantagens na compra do ingresso.

Palmeiras e Corinthians, por exemplo, atraíram respectivamente 62 mil e 68 mil novos sócios só no ano passado e se tornaram os líderes desse programa no Brasil. Naturalmente o tripé "estádio novo/maior procura por ingresso/espaço limitado" foi um importante impulsionador destes números.

Por fim, após uma curva natural de aprendizado, parece que os operadores das novas arenas conseguiram melhorar muito o nível do serviço prestado ao torcedor. Desde aspectos concretos como maior facilidade para aquisição de ingresso, gestão das filas na entrada e capacidade de identificação de torcedor com comportamento inadequado, até elementos novos para o público do futebol como atividades pré e pós-jogo, exibição de vídeos customizados, apresentação de novas contratações e ativações com sócios-torcedores, foram vários os pontos de destaque nesta nova experiência do torcedor.

Ao mesmo tempo, percebe-se que essas mudanças não são incompatíveis  com a chamada cultura do torcedor brasileiro, mais vibrante do que a do europeu, reservando setores específicos do estádio para quem quer assistir ao jogo em pé e incentivar o time com seus cânticos.

Em que pese este cenário interessante para o segmento de arenas, os desafios ainda são imensos. Gestores de estádios de alto padrão construídos de forma irresponsável em cidades com baixíssimo apelo futebolístico, como Manaus, Cuiabá e Brasília, terão que se desdobrar para conseguir rentabilizá-los. Há também enorme frustração com os chamados "naming rights", que definitivamente ainda não emplacaram no Brasil. Além disso, operadores novos que entraram no mercado passam por momento interno turbulento, como Odebrecht e OAS, e tendem a se afastar do segmento. E a taxa de ocupação dos estádios ainda permanece baixíssima, bem distante dos mais de 90% de presença média das ligas inglesa e alemã: 9,5 milhões de ingressos ficaram "encalhados" no Brasileirão 2015, o que significa R$ 300 milhões que deixaram de ser arrecadados.

De qualquer forma, houve um avanço importante neste período e quem souber explorar bem estes novos ativos do mercado pode dar um salto econômico relevante nos próximos anos.

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