Luiz Fernando Gomes: ‘S.O.S Primeira Liga!’

Colunista do LANCE! aponta as dificuldades da competição se manter viva após dois anos de vida e ressalta a chance que pode ser perdida depois da mobilização dos clubes

Internacional x Fluminense - Primeira Liga
Inter e Flu jogaram pela Primeira Liga na quarta-feira (Foto: NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C.)

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A criação da Primeira Liga foi um passo importante. Desde o surgimento do Clube dos 13, nos anos 80, não se via uma mobilização de grandes clubes – verdade que os de São Paulo nunca aderiram – em defesa de interesses comuns e, de forma efetiva, impondo-se à CBF que, mesmo contrária a sua criação e não reconhecendo o torneio como oficial, não teve como impedi-lo, foi obrigada a engolir o sapo goela abaixo.


No entanto, aquilo que prometia abrir novos horizontes no futebol brasileiro, corre o risco de transformar-se tão somente em mais uma oportunidade perdida.


Da primeira edição do torneio – vencida pelo Fluminense no ano passado – para a versão atual, o único fato positivo foi a renovação do contrato de transmissão de TV em bases bem mais vantajosas do que em 2016. São R$ 20 milhões, num contrato que vai até 2019, contra R$ 5 milhões da edição de estreia, Por um acerto entre os clubes, o Flamengo fica com a maior fatia desse bolo, e há duas outras faixas de renda que enquadram os demais participantes, Grêmio, Internacional, Cruzeiro, Atlético-MG e Fluminense no grupo intermediário e Brasil de Pelotas, Chapecoense, Criciúma, Avaí, Figueirense, Joinville, Londrina, Paraná, América-MG, e Ceará com menor valor.


Fora isso, é fato, não há nada mais a comemorar-se. Essa semana, Abel Braga detonou a organização do campeonato – talvez verbalizando o que muita gente em outros clubes tinha vontade de dizer mas faltou coragem para fazê-lo. “É uma competição que a gente não consegue entender. Se fala tanto em calendário no Brasil e temos essa liga independente. Antes era Sul-Minas, agora tem time do Nordeste. Não dá para entender” disparou o comandante tricolor após a derrota para o Internacional, no Beira-Rio, com um time recheado de desfalques,


A preocupação maior do treinador é com a maratona de jogos, os problemas de logística, o desgaste do time. “Domingo (hoje contra o Bangu) tem Carioca, depois Copa do Brasil no Nordeste. Depois tem uma data que a gente não sabe se terá Primeira Liga. E já pensamos em Sul-Americana. Perdemos uma semana de treino. Nunca se teve tão pouco tempo para treinar”, acrescentou. Abelão não deixa de ter razão.


Apesar da falta de datas, consequência principalmente da mudança do calendário da Conmebol que estendeu Libertadores e Sul-americana por mais meses ao longo do ano - a Primeira Liga inchou, um erro básico e recorrente no Brasil. Foram 12 clubes em 2016 e agora são 16 – registre-se o desfalque de Coritiba e Atlético-PR que, por discordarem da distribuição das verbas de TV, a verdadeira razão do racha, encontraram na alegação de que o torneio sobrecarregaria os jogadores com uma sucessão de jogos acima do tolerável, uma razão politicamente correta para sair.


Da forma como está acontecendo, a Primeira Liga virou um estorvo na vida dos clubes. Chapecoense e Joinville que o digam. Essa semana, ambos viveram a situação bizarra de ter de disputar dois jogos em dois dias seguidos – um pela rodada do Catarinense, outro pela Primeira Liga. Tiveram de dividir o elenco e, como era de se esperar não deu certo: a Chape perdeu de 3 a 0 para o Avaí e de 2 a 0 para o Cruzeiro. O Joinville que ainda conseguiu vencer o Metropolitano, na quarta, caiu também por 2 a 0 para o Atlético-MG, na quinta.


Para abalar ainda mais o torneio, mesmo clubes que não passaram por uma situação extrema e injustificável como essa têm apelado a times mistos ou mesmo reservas, valorizando mais as disputas locais. Uma prática curiosa, que contraria inclusive o discurso que levou à fundação da Primeira Liga e que tinha na falência dos Estaduais um dos argumentos em fvor da mudança.


É um momento grave. Da mesma maneira como aconteceu recentemente com o Bom Senso, quando pouco a pouco os jogadores foram abandonando a trincheira da luta pelas reformas, os clubes filiados à Primeira Liga vão perdendo gás e minando, de dentro para fora, a força da entidade. Del Nero e sua turma devem estar rindo de um lado a outro da boca.


Nem tudo está perdido. Mas uma correção de rota se impõe de imediato.

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