Aos 21 anos, Jean Chera recomeça na 4ª divisão: ‘Vejo o futebol com outros olhos’

Ao LANCE!, 'eterna promessa' abre jogo sobre calote de empresários, parceria com Neymar e problemas com peso. Nascimento de filho é principal motivação para volta por cima

Jean Chera, hoje no Sinop-MT, tem apenas 21 anos e rodou por clubes no Brasil e na Europa. Confira imagens da carreira do jogador
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Talvez você nunca tenha visto um jogo de Jean Chera, mas provavelmente já ouviu esse nome. Em 2006, ganhou força na mídia quando foi listado como uma das três principais joias do Santos - ao lado de Gabigol e Neymar - por Lima, ex-jogador e técnico das divisões de base do clube (confira no vídeo abaixo). O camisa 10 da 'Santástica Fábrica de Craques' chegou a ganhar salários de 30 mil reais antes mesmo de completar 15 anos. Ainda criança, tinha responsabilidades de um jogador profissional; o que impediu seu desenvolvimento natural no futebol.

- Foi uma das coisas que me atrapalhou a engrenar. Era muito novinho e a pressão era grande com 9, 10 anos, chegando no Santos. Foi criada uma expectativa em torno de mim, que fugia das minhas mãos. Diretoria e empresários ficavam em cima - conta Jean, em entrevista exclusiva ao LANCE!.

'Acredito muito nessa safra nova do Santos. É um meia que cria, que chega e organiza. Uma posição que está faltando no futebol brasileiro e mundial'

Lima sobre Jean Chera, há onze anos, em 2006

O sucesso precoce pode ter tirado o foco da formação do jogador nas divisões de base e sua carreira não tomou o rumo esperado por todos. Chamado de 'Messi do Mato Grosso', teve caminho bem diferente do craque argentino e nem chegou a estrear profissionalmente pelo Peixe. Com apenas 21 anos de idade, o meia canhoto passou por mais de 10 times na carreira, desde gigantes como Flamengo e Cruzeiro, times pequenos da Grécia, Romênia e Espanha, até chegar ao modesto Sinop-MT, onde começa a reconstruir sua trajetória. E garante ter mudado sua postura depois de tantas frustrações em pouco tempo e por um motivo especial que o motiva a cada dia.

- Estou bem focado. Depois que meu filho Léo nasceu (em agosto de 2016), mudou minha vida completamente. Vejo o futebol com outros olhos. Quero que ele veja o pai dele e se espelhe. Estou treinando, trabalhando duro aqui no Sinop-MT e temos um ano cheio de competições. Espero ficar aqui por uns dois anos e adquirir o ritmo pra voltar a jogar. Depois disso, vamos ver o que acontece - disse o meia, ainda esperançoso com o futuro no futebol.

Hoje, busca o recomeço em seu estado natal. Jean sabe que a chance dada pelo Sinop-MT pode ser a última de se reerguer como atleta profissional. O jogador foi bem acolhido no elenco, onde se sente em casa. A fama de 'eterna promessa' que carrega desde cedo foi um carma durante os últimos anos.

- Eu tive problemas com isso em outros clubes que passei, mas aqui já estou ha dois meses treinando e fui super bem recebido pelos jogadores. Nossa convivência é muito boa. Procuro ajudar meus companheiros e sou ajudado também.

Você era apontado como uma das joias do Santos ao lado de Gabigol e Neymar. Como vê o sucesso dos dois na Europa enquanto briga para se firmar como profissional no Brasil?

- Fico feliz por eles, eram e são amigos que eu fiz no Santos. Merecem todo o sucesso que atingiram. Até mais, porque o Gabigol vai atingir cada vez mais do que está fazendo. Eu estou aí, batalhando. Não é o fim. Ouvi bastante coisa quando tinha parado, não foi isso que a imprensa colocou por aí (que teria se aposentado). Vou conseguir voltar a jogar em alto nível.

Acredita que pode voltar a fazer sucesso atuando pelo modesto Sinop-MT? Ou o clube é uma ponte para voltar à elite?


- É o meu objetivo. No Sinop estou em casa, todo mundo me quer aqui. Às vezes, o clube pode ser bom mas você não se sente à vontade. O presidente quer mas o treinador, diretor, não te quer. Aqui todo mundo me quer, diretoria, comissão, jogadores. Por isso escolhi ficar aqui. Tive outras propostas mas quis ficar.

Você tem a chance de mostrar seu futebol nesta noite, contra o Fluminense, pela Copa do Brasil. Qual expectativa para a partida?

- Pra gente é a partida mais importante do ano por se tratar do Fluminense, time grande, de Série A. O Brasil inteiro vai estar assistindo, então é tentar fazer uma boa partida para tentar voltar aos poucos. Vai ser difícil, não dá pra comparar a estrutura deles com a nossa. Mas não vai ser fácil pra eles. Se acham que vai ser moleza, estão enganados.

As fotos de sua apresentação no Sinop-MT revelam alguns quilinhos a mais. Teve problemas com peso durante a carreira?

- Tive. Depois que saí do Santos, fiquei uns três anos indo pra clubes que não deveria ter ido e, por alguns problemas, não jogava, só treinava. É diferente de quem joga, está em atividade. Isso me prejudicou muito. Cheguei aqui em dezembro, janeiro, acima do peso. Ainda estou um pouquinho, melhorei muito desde que cheguei. Faltam cerca de dois ou três quilos pra chegar ao peso ideal, já estou em fase final de recuperação

Você teve passagens frustradas por alguns clubes. Se arrepende de alguma decisão na carreira?

- Me arrepender, não. Tudo que passei, bem ou mal, me amadureceu como jogador e como pessoa. Algumas coisas poderiam ter mudado, é verdade. Fui em 2014 para Grécia, foi complicado. Viajei sem assinar nada, assinamos contratos lá mesmo e fiquei  sete meses sem receber nenhum centavo. As condições pra treinar eram horríveis, tínhamos que pagar do nosso bolso pra comer. Não conseguia falar nada, só falam grego, nem em inglês falam. Foram sete meses jogados fora, sem fazer nada por lá.

Essa foi a pior experiência da carreira? Já levou mais algum 'calote' de empresários?

- Essa foi a pior, mas saí também do cruzeiro em 2013, pelo sub-17, treinando bem pra caramba. Surgiu empresário que eu não conhecia falando de proposta do West Ham, da Inglaterra. Acreditei no cara, que pediu pra eu rescindir com o clube. Rescindi, liguei pro cara e era tudo mentira. Não tinha praticamente nada. Depois fui pro Oeste jogar o Paulistão e também tive problemas com empresário. São coisas que poderia ter evitado.

Acredita então que sua carreira foi prejudicada por empresários e dirigentes com interesses diferentes do seu?

- Sim, mas eu também tive culpa, é lógico. Não treinava direito, fazia coisas erradas fora de campo. Sempre fui tranquilo, nunca tive problema em clube nenhum com jogador. Por ser novo, morando sozinho, com meus pais voltando pro Mato Grosso, posso ter me perdido. São coisas que passaram e hoje tenho total noção das responsabilidades.

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