Involução fora de campo combate a evolução dentro dele no Paulistão

Técnicos dos principais clubes do estado tentam implantar novos modelos de jogo em seus times, mas falta entendimento, cultura e paciência para que torcidas entendam o processo

Corinthians venceu o Audax por 1 a 0 no sábado
(Foto: Ale Cabral/AGIF)

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Com duas vitórias seguidas pela primeira vez desde que assumiu o Palmeiras, Eduardo Baptista ganhou mais um problema para construir o 4-1-4-1 que considera ideal. Neste domingo, na goleada por 4 a 0 sobre o Linense, Moisés deixou o campo aparentando séria lesão no joelho esquerdo e se junta a Arouca e Tchê Tchê na lista de baixas para o meio. A possibilidade de utilizar Jean no setor inexiste porque Fabiano também está no departamento médico. As dificuldades para montar o time não são levadas em conta por uma torcida que já pressionou o treinador no terceiro jogo oficial da temporada.

Eduardo assumiu o campeão brasileiro e, corajosamente, quis dar a ele sua identidade em vez de manter o estilo de Cuca, seu antecessor. A ousadia para implantar um novo estilo de jogo, presente também nos treinadores dos três rivais paulistas, mostra a recente evolução dentro de campo do futebol brasileiro. Mas a falta de cultura, entendimento e paciência das torcidas mostra que, fora dele, demos alguns passos para trás.

No sábado, o Santos, que possivelmente começou o ano com o modelo de jogo mais ofensivo do Brasil, perdeu para a Ferroviária por 1 a 0, sofrendo a segunda derrota consecutiva em dois jogos na Vila Belmiro. Torcedores já haviam reagido de maneira péssima após o revés por 3 a 1 para o São Paulo, no meio de semana, e dessa vez foram os gritos de “time sem vergonha” e “tem que honrar a camisa do Peixão” que chocaram.

Depois de conseguir montar times competitivos por anos seguidos com elencos desequilibrados, tendo opções mais ricas para as posições mais ofensivas, Dorival decidiu ir para o tudo ou nada e montou um modelo com defesa alta, que utiliza volantes no lugar de zagueiros e laterais como armadores do começo das jogadas. A ideia tem tudo para dar certo por casar bem com o elenco do Santos, mas os erros que tendem a acontecer no começo de trabalho resultam em perigosos contra-ataques. É preciso paciência para corrigi-los, e a torcida tem de entender tal necessidade.

Mesmo um ídolo do tamanho de Rogério Ceni sabe que não está imune à cultura de cobrança imediatista do futebol brasileiro. Na estreia de Lucas Pratto, o Tricolor empatou por 2 a 2 com o Mirassol no Morumbi dias depois de apresentar um futebol convincente contra o Santos mesmo sem seus principais reforços – Wellington Nem se machucou no primeiro jogo oficial da temporada, e Jucilei ainda não está à disposição. Apesar do crédito, o ex-goleiro mostrou em sua coletiva pós-jogo que sabe que técnicos não têm o direito de patinar no país.

- Eu gosto de jogo mais controlado, e não como basquete, que você arremessa, volta, arremessa, volta. Gosto mais de futebol, não tem limite de tempo. Tem que ficar mais com a bola, principalmente quem está ganhando como nós hoje – declarou.

O Corinthians, por sua vez, conseguiu viver um fim de semana livre de pressão. Mesmo poupando alguns titulares, o Timão venceu, fora de casa, o Audax por 1 a 0 com gol de Kazim. Mas a torcida já mostrou que tudo pode mudar no meio da semana, quando o Alvinegro recebe o Palmeiras na Arena. Os gritos de “é quarta-feira”, puxados pela maior organizada do clube, mostraram que a paz pode ser passageira no Parque São Jorge.

Carille começou o ano com um trabalho bom. Mesmo sem experiência prévia como treinador principal e pegando um elenco sem base pronta, o técnico resgatou boa parte do modelo de jogo e dos métodos de trabalho de Tite para organizar o time. É preciso paciência para que resultados mais expressivos venham, especialmente com um profissional em começo de carreira. Mas basta olhar para os rivais para perceber que a virtude está em falta no futebol brasileiro.

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