‘É muito difícil para os técnicos estrangeiros implementarem seu trabalho’

Jornalistas explicam o motivo dos treinadores de fora não darem certo quando chegam ao futebol brasileiro

Cruzeiro x Sport - Campeonato Brasileiro Série A - Paulo Bento
Paulo Bento foi demitido do Cruzeiro após 75 dias (Foto: Thomas Santos/AGIF/LANCE!Press)

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A contratação de técnicos estrangeiros e a falta de continuidade deles em seus cargos não sai de pauta no futebol brasileiro. Recentemente, muitos nomes de várias nacionalidades diferentes foram testados e sempre acabam contestados e demitidos com muita rapidez.

Paulo Bento (Portugal) - Cruzeiro 2016

A mais recente demissão aconteceu no Cruzeiro, com Paulo Bento saindo após a derrota para o Sport por 2 a 1, no Mineirão. O português comandou o clube celeste em 17 jogos, 15 pelo Brasileirão e dois pela Copa do Brasil. Foram seis vitórias, três empates e oito derrotas. No total, ele ficou 75 dias no cargo.

- Paulo Bento não só teve muito pouco tempo para implementar seu trabalho, mas a chegada ao Cruzeiro com o Brasileirão em andamento foi muito prejudicial. Sua maneira de trabalhar seria mais bem-sucedida ao entrar em uma pré-temporada.

Somam-se a isto a falta de qualidade do plantel celeste, as lesões de jogadores como Mayke e Dedé, e o fato de Bento ter demorado a contar com reforços. Sóbis e Ábila jogaram pouco com ele, e Denílson sequer entrou em campo - comentou Hugo Neves, repórter do português Récord.

Edgardo Bauza (Argentina) - São Paulo 2016

Grêmio x São Paulo - Campeonato Brasileiro - Bauza
Bauza está no São Paulo desde janeiro (Foto: Ricardo Rímoli/LANCE!Press)

Edgardo Bauza chegou ao São Paulo em janeiro de 2016 e liderou o Tricolor às semifinais da Copa Libertadores. Nos últimos dias tem sido especulado na seleção da Argentina após o treinador Tata Martino pedir demissão depois da Copa América Centenário. 

- A cultura de futebol brasileira é muito especial, e os treinadores estrangeiros têm muita dificuldade para se adaptar a eles, tanto que somente Edgardo Bauza vem sobrevivendo. Além disto, o futebol visa o resultado imediato, e algumas derrotas são suficientes para deixar sob desconfiança qualquer trabalho - avaliou o jornalista Bruno Sturari, do Olé, da Argentina.

Sérgio Vieira (Portugal) - América-MG 2016

Sergio Vieira (foto:Mauro Horita)
Sérgio Vieira não foi bem no América-MG (Foto: Mauro Horita)

O América-MG apostou no português Sérgio Vieira, que só durou 43 dias no cargo. Ele deixou o Coelho na lanterna do Campeonato Brasileiro com oito pontos. Vieira teve sete derrotas e três vitórias, sendo uma delas na Copa do Brasil, contra o Fortaleza. 

- Sergio Vieira teve menos tempo ainda que Paulo Bento. Aqui na Europa o que se critica mais no futebol brasileiro é a maneira como os treinadores têm de mostrar resultado rapidamente. Vieira chegou a um América-MG que estava na última colocação e vinha de muitos erros. Não seria em 43 dias que ele iria promover mudanças para a equipe - disse Hugo Neves, repórter do Récord.

Juan Carlos Osório (Colômbia) - São Paulo 2015

Osorio - São Paulo (Foto: Alan Morici/ Lancepress!)
Osório deixou o São Paulo para treinar o México (Foto: Alan Morici/ Lancepress!)

Juan Carlos Osório ficou 133 dias no comando do São Paulo e trocou o Tricolor pela oportunidade de treinar a seleção do México. No total, Osório comandou o time do Morumbi em 28 jogos e teve 12 vitórias, sete empates e nove derrotas.

Diego Aguirre (Uruguai) - Internacional 2014,2015 e Atlético-MG 2016

Diego Aguirre, técnico do Atlético-MG (Foto: Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG)
Diego Aguirre treinou o Internacional e o Atlético-MG (Foto: Bruno Cantini/Divulgação/Atlético-MG)

Diego Aguirre foi um dos treinadores que mais durou em seu cargo. Treinando Internacional e Atlético-MG, ele passou 227 dias no colorado e 168 no Galo. Aguirre deixou o Inter às vésperas do Gre-Nal após comandar 48 partidas oficiais. Foram 24 vitórias, 15 empates e nove derrotas. Conquistou o Gauchão sobre o Grêmio e terminou a Libertadores como semifinalista. No Brasileirão, deixou o time gaúcho na décima posição.

No time atleticano, o treinador disputou 31 partidas e teve 16 vitórias, sete empates e oito derrotas. Conquistou apenas o Torneio da Flórida, foi vice-campeão mineiro, perdendo a decisão para o América-MG, além de ser eliminado na fase de grupos da Primeira Liga. O que culminou seu pedido de demissão foi a derrota para o São Paulo nas quartas de final da Libertadores.

- O futebol brasileiro tem uma forma muito peculiar de funcionar, e é muito difícil para os técnicos estrangeiros implementarem sua forma de trabalho. Além disto, os estilos de jogos que tentam implementar não são necessariamente as ideais para o que os clubes brasileiros pedem, e os técnicos não conseguem seguir seus trabalhos - comentou o jornalista Ignacio Chans, do El Observador, do Uruguai.

Ricardo Gareca (Argentina) - Palmeiras 2014

Gareca (Foto: Arquivo LANCE!)
Gareca ficou três meses no Palmeiras (Foto: Arquivo LANCE!)

Ricardo Gareca resistiu apenas três meses no comando do Palmeiras. Após uma onda de contratações e muita pressão, a direção justificou que os resultados dele à frente do Verdão eram insustentáveis. No Brasileirão, ele conquistou apenas quatro pontos de 27 possíveis. Em nove partidas na competição, foram sete derrotas, um empate e uma vitória.

No total, Gareca comandou a equipe em 13 jogos, incluindo um amistoso e três duelos pela Copa do Brasil. Foram quatro vitórias, um empate e oito derrotas.

Juan Carrasco (Uruguai) - Atlético-PR 2012

Juan Carrasco (Uruguai) Técnico Atlético-PR 2012
Juan Carrasco chegou em 2012 ao Atlético-PR (Foto:Divulgação/AtleticoPR)

Juan Carrasco chegou ao Atlético-PR no dia 4 de janeiro e foi demitido no dia 12 de junho após maus resultados na Série B. O uruguaio comandou 36 jogos, venceu 22, empatou sete e perdeu outras sete. O time perdeu para o rival Coritiba na final do Campeonato Paranaense, caiu diante do Palmeiras nas quartas de final da Copa do Brasil e ocupava apenas a décima posição na segunda divisão do Campeonato Brasileiro.

Miguel Angél Portugal (Espanha) - Atlético-PR 2012

O espanhol Miguel Ángel Portugal teve aproveitamento de 33,3% dos pontos no Atlético-PR em 2014
Miguel Angél Portugal ficou de janeiro a maio no Atlético-PR (Foto: Divulgação)

Miguel Angél Portugal durou 131 dias no comando do Atlético-PR (janeiro a maio) e pediu demissão após 13 jogos oficiais. Foram cinco vitórias, dois empates e seis derrotas.

Jorge Fossati (Uruguai) - Internacional 2009, 2010

Jorge Fossati, técnico do Al Rayyan, do Qatar
Jorge Fossati ficou no Inter de dezembro de 2009 a maio de 2010 (Foto: Divulgação)

Jorge Fossati liderou o Internacional na campanha que rendeu ao colorado o título da Libertadores em 2010. Porém, o treinador não esteve no comando da equipe na decisão. Chegando em dezembro de 2009, ele foi demitido em 28 de maio de 2010 com o time na semifinal da competição continental. Foram 33 partidas com 18 vitórias, seis empates e nove derrotas.

Lothar Matthaus (Alemanha) - Atlético-PR 2006

Em 1991, o alemão Lothar Matthaus foi o primeiro a receber o prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa (Foto: AFP / Jorge Silva)
Lothar Matthaus  foi contratado em 2006 (Foto: AFP / Jorge Silva)

O alemão Lothar Matthaus ficou no Atlético-PR entre janeiro e março de 2006. A diretoria do Furacão surpreendeu ao anunciar, em um contrato que valia R$ 3 milhões, a chegada de Matthäus, até então a maior aquisição da história do clube. Menos de dois meses depois, oitos jogos, seis vitórias e dois empates, Matthäus reclamou de salários atrasados, mas o clube negou.

No dia 7 de março, o site oficial do Furacão anunciou que o treinador se ausentaria do clube "por alguns dias para resolver assuntos pessoais na Alemanha". Ele deixou o treino da manhã no CT do Atlético e viajou para São Paulo, onde fez voo de conexão para Frankfurt. No dia 20 de março, a diretoria anunciou o desligamento de Matthäus do cargo.

Daniel Passarela (Argentina) - Corinthians 2005

São Paulo 5 x 1 Corinthians, 8/5/2005, Pacaembu: Daniel Passarela, técnico do Timão, caiu após massacre (Reginaldo Castro)
Daniel Passarela substituiu Tite em 2005 (Reginaldo Castro)

Daniel Passarella foi contratado em março de 2005 para substituir Tite. Depois de uma derrota por 3 a 0 para o Cianorte na estreia, o argentino engatou uma sequência invicta de 11 jogos. Porém, quando o Brasileirão começou, o Corinthians "desandou". Em 15 jogos, Passarella obteve sete vitórias, quatro empates e quatro derrotas.

Darío Pereyra (Uruguai) - São Paulo 1997/98, Coritiba 1998, Atlético-MG 1999, Guarani 2000, Corinthians 2001, Paysandu 2003, Grêmio 2003

Darío Pereyra (Uruguai) Técnico Grêmio 2003
Darío Pereyra é ídolo do São Paulo (Foto: Divulgação)

Darío Pereyra é um um dos grandes ídolos do São Paulo no passado e, após a aposentadoria, resolveu virar técnico e começou como auxiliar de Muricy Ramalho no próprio São Paulo, em 1997. Foi embora em 1998 e rodou diversos clubes, como Coritiba, Atlético-MG, Guarani, Corinthians, Paysandu, Grêmio, Arapongas, Portuguesa, Vila Nova-GO e Águia de Marabá-PA. Ele ganhou apenas uma taça, o Campeonato Mineiro de 1999 pelo Galo.

Roberto Rojas (Chile) - São Paulo 2003

Roberto Rojas (Chile) Técnico São Paulo 2003
Roberto Rojas treinou o São Paulo em 2003 (Foto:Nelson Almeida/LANCE!Press)

Após a polêmica que o fez encerrar a carreira em 1990, Roberto Rojas voltou após uma conversa com o técnico Telê Santana, então no São Paulo, e foi ser treinador de goleiros.

Em 2003, depois da demissão de Oswaldo de Oliveira, Rojas e Milton Cruz assumiram o comando do time no Campeonato Brasileiro e, no final deste ano, levaram o São Paulo à vaga da Libertadores de 2004. Ele mostrou o desejo de ser efetivado, mas a diretoria da época decidiu contratar Cuca.

- Lidar com o futebol brasileiro é complicado. São conceitos muito arraigados, e fica muito difícil para um treinador estrangeiro propor novas ideias de trabalho, especialmente em pouco tempo - comentou o jornalista Juan Ignacio Gardella, do El Grafico, do Chile.

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