Auxiliar no Lyon, ex-zagueiro Caçapa quer ser técnico e fala de chances da equipe contra a ‘máquina’ do PSG

Ex-zagueiro de Galo e Cruzeiro, além de multicampeão pelo clube francês, conta ao LANCE! os desafios na nova carreira e as expectativas da equipe para derrotar o poderoso PSG hoje

Claudio Caçapa
Claudio Caçapa defendeu o Cruzeiro entre 2009 e 2010 (Foto: Leonardi/Lancepress)

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Depois de nove anos, o ex-zagueiro Cláudio Caçapa está de volta ao Olympique de Lyon. No entanto, desta vez não é como jogador, mas como auxiliar-técnico de Bruno Génésio. Caçapa, que no Brasil atuou por Atlético-MG, Cruzeiro e Avaí, foi um dos protagonistas da vencedora geração do time francês, que contava com outros brasileiros como Juninho Pernambucano, Fred e Cris.

Aos 39 anos e seis títulos do Campeonato Francês no currículo nos sete anos em que atuou pelo Lyon, Caçapa falou em entrevista ao LANCE! sobre o convite que o fez retornar à Europa e o sonho de se tornar treinador, além de revelar quem são os profissionais que o inspiram e os clubes brasileiros que gostaria de treinar.

Caçapa, que foi contratado para esta temporada, comentou também sobre a situação abaixo da expectativa em que o time se encontra, ocupando a 6ª posição em 25 jogos na Ligue 1, o Campeonato Francês. Além de não conseguir engrenar na competição, a equipe ainda foi eliminada na fase de grupos da Liga dos Campeões e também na Copa da Liga Francesa. Para o brasileiro, a grande oportunidade será vencer o poderoso PSG, na Copa da França, nesta quarta e seguir vivo na disputa pelo único título possível para salvar a temporada. O desafio é enorme, já que o endinheirado time parisiense  lidera de forma avassaladora o Campeonato Francês, com 22 vitórias, três empates e nenhuma derrota (são 24 pontos à frente do segundo colocado Monaco) e a partida acontecerá no estádio do rival, o Parque dos Príncipes, na capital francesa. Foi justamente o time de Ibrahimovic e do brasileiro Lucas que eliminou o Lyon da Copa da Liga francesa, com vitória por 2 a 1. Confira a entrevista:

Como foi o convite para voltar ao Lyon?
-Estava trabalhando na Arábia Saudita como auxiliar técnico do Al-Qadisiyah, junto com o Alexandre Gallo, e recebi um telefonema do empresário do Juninho Pernambucano dizendo que o presidente do Lyon pediu para ele entrar em contato comigo para saber se eu tinha interesse em assumir a posição. Eu, prontamente, disse que sim! A negociação foi muito rápida e eu gostaria mesmo de voltar. Eles Me ligaram, fizeram a proposta e eu aceitei. Depois de três ou quatro dias já estava na França.

Encontrou o clube muito diferente da época de jogador?

Da minha época, mudou muita coisa. É um clube mais profissional em todas as áreas, é muito moderno, tem um estádio muito bonito, que comporta 60 mil pessoas, um dos estádios mais bonitos da Europa.

"Quando eu recebi o telefonema não tinha nem como pensar duas vezes. Eu voltei no melhor momento, da inauguração do novo estádio, o Stade des Lumières"



Como foi retornar ao clube em que você foi tão vencedor?

Já era um sonho, já era uma vontade muito grande que eu tinha de voltar a morar na Europa, até porque passei muitos anos aqui, então já estava com saudades. Quando eu recebi o telefonema não tinha nem como pensar duas vezes. Eu voltei no melhor momento, da inauguração do novo estádio, o Stade des Lumières (Estádio das Luzes).

*O Stade des Lumières fica mais distante da cidade de Lyon. Acha que isso pode afastar o público?

- Acho que não. Até então eu não vi ninguém reclamando do novo estádio. Mesmo ele sendo 20, 30 minutos afastado de Lyon eu ainda não vi ninguém reclamando do estádio, até porque ele ficou muito bonito, está com uma infraestrutura maravilhosa.

*O estádio fica na cidade de Décines-Charpieu, na região metropolitana de Lyon,  e receberá jogos da Eurocopa no meio do ano. 

"Acho que o Paris, se disputasse qualquer liga, seria um dos favoritos, senão o favorito. Aqui na França eles são os favoritos a tudo"

O presidente do Lyon, Jean Michel Aulas, é o mesmo que o contratou como jogador. Como foi esse reencontro? Como é sua relação com ele?
Temos uma afinidade, temos contato. Ele é o presidente já há quase 30 anos e foi meu presidente quando vim para o Lyon como jogador. Eu já ouvi dele que tem um carinho muito grande por mim e quando eu cheguei de novo ele disse: "Eu te disse que você voltaria um dia". Eu fiquei muito feliz com essas palavras, é claro. É um presidente presente, está sempre com a gente.

O que ele te falou sobre o momento do clube? Ele comentou sobre alguma projeção para que o Lyon possa voltar a ser competitivo, como hoje é o PSG na França?
Essa é a grande vontade dele, com certeza. Mas, hoje, competir com o PSG de igual para igual é muito difícil. Acho que o Paris, se disputasse qualquer liga, seria um dos favoritos, senão o favorito. Aqui na França eles são os favoritos a tudo.

E como você explica o atual momento do clube, sendo um time tradicional e com um grande poderio financeiro? Não era para estar numa posição melhor?
- É lógico que ele (o clube) não merece estar onde está, isso é certo. Eu acho que são alguns detalhes que precisamos corrigir tanto da parte técnica quanto da parte tática pra que a gente possa acertar o time. O Lyon é um clube para brigar por títulos, mesmo que tenha o PSG, precisamos jogar para estar lá no topo, com certeza.


Você foi contratado nesta temporada, faz pouco tempo, mas como você tem analisado o jogo do Lyon? O que precisa melhorar?
- Cheguei faz pouco tempo, é verdade, um mês apenas. O time tem jogado bem, tem feito muitas finalizações, tem criado, mas não estamos conseguindo transformar tudo isso em resultados. A gente sabe que no futebol é preciso marcar gols para vencer. Tem sim uma preocupação nossa, mas eu tenho certeza que por meio do trabalho que tem sido feito as vitórias voltarão. Esperamos que seja o mais rápido possível.


Hoje você é auxiliar. Tem a pretensão de se tornar treinador?
Tenho! Quero ser treinador, sem dúvidas, mas primeiro quero aprender bastante.

Você esta se preparando? Fez cursos?
-Comecei fazendo alguns cursos em Minas Gerais. Fiz o curso da CBF, no Rio de Janeiro, e agora estou fazendo o curso da UEFA, que devo concluir em dois anos, dois anos e meio.

Tem como inspiração algum treinador?
Tenho alguns mais modernos, que têm feito grandes trabalhos e conquistado títulos. Posso citar alguns que eu gosto do estilo de jogo, da maneira de jogar. O Pep Guardiola, com certeza. Em nível tático, o Mourinho. No Brasil, o Tite, mas também pude trabalhar com Carlos Alberto Parreira, com quem aprendi muito. São técnicos acima da média.

Tem o sonho de treinar alguma equipe?
- Sonho, com certeza eu tenho, mas primeiro quero aprender bastante para depois colocar isso em prática, dentro de campo, comandando alguma equipe.

Como você vê o mercado de técnicos no Brasil?
- Acho que ainda falta mais oportunidades para os mais jovens. Mas, não somente no Brasil, fora também.

Um dia, pretende voltar ao Brasil como treinador?
Hoje o Brasil não é meu pensamento, mas se daqui uns anos  eu estiver bem preparado e estruturado, e receber o convite, por que não?

Imagina algum clube em especial? Você construiu sua história no futebol mineiro. Seria uma possibilidade?
Atlético Mineiro é o clube que comecei, tenho uma história bastante bonita com o clube. Passei também no Cruzeiro, tenho amigos, então seria um prazer trabalhar lá no Cruzeiro. Eu cheguei a trabalhar nas categorias de base do clube também, mas agora meu pensamento é continuar na Europa.

Pensando em ligas, teria alguma que gostaria de ingressar como treinador?
Se fosse na França eu já ficaria satisfeito, foi aqui que eu cheguei primeiro. Aqui eu já ficaria feliz da vida em começar.

E como está sendo ser auxiliar no Lyon? Como é sua rotina?
- Rotina carregada, estou chegando agora e estou querendo mostrar trabalho, quero ficar. Chego três horas antes do treino, assisto aos jogos do Lyon e dos adversários e ainda tem o Curso da UEFA, que às vezes passo o dia inteiro estudando.

E o seu relacionamento com o treinador Bruno Génésio?
Nosso relacionamento é muito bom, foi ele quem fez o pedido, que indicou meu nome. Temos um relacionamento muito aberto, conversamos de tudo dentro do futebol, que envolve o clube, o que seria melhor, que tipo de treinamento fazer. Ele permite que a gente opine, crie situações de treinamentos, então o meu relacionamento com ele é ótimo.

Com a situação incômoda na classificação do Francês, acha que ele fica até o final da temporada?
- Vai, com certeza, e eu espero que ele renove, quero que ele fique até o final da temporada. Quero que ele renove o contrato para, pelo menos, mais dois anos, até porque ele tem feito um bom trabalho. A gente vê isso, se analisarmos finalizações e posse de bola, a gente vê em todos os jogos nós finalizamos mais ou tivemos mais posse de bola, tirando o PSG. E mesmo assim, ou nos igualamos com eles na posse de bola ou nas finalizações, então acho que o time está no caminho certo. O Bruno está fazendo um ótimo trabalho e vou torcer para que ele venha a ter o contrato renovado.

Além de você, o Lyon também tem o lateral direito Rafael. Como é sua relação com ele?
- Estamos nos conhecendo, já temos um contato maior por sermos brasileiros. Mas ainda estou conhecendo o elenco e o Rafael é bem bacana.

No próximo dia 10 o Lyon tem um confronto duro diante do PSG pela Copa da França? como está a preparação?
O Bruno, que é um estrategista, vai preparar o jogo, até porque será um jogo importante para a gente, já saímos da outra Copa e queremos buscar tentar vencer, tentar salvar o ano e ganhar essa Copa da França. Nós caímos (na Copa da Liga Francesa) para o Paris, que é o time a ser batido, mas nós vamos fazer de tudo para tentar vencer esse jogo.

Além da Copa da França, quais são os outros objetivos que o Lyon tem na temporada?
- Objetivo é continuar com padrão de jogo,ao trabalho e fazer com que o time venha a vencer jogos e terminar o mais próximo possível do PSG, buscar a segunda colocação, que dá a vaga para a Liga dos Campeões.

Você conquistou muitos títulos com o Lyon, tem o carinho do torcedor. Você se vê como um ídolo do clube?
- Ídolo é uma palavra muito forte. Passei sete temporadas, dei o meu melhor, conquistei títulos, fiz grandes amizades e tenho o respeito e o carinho por todos e de todos. Eu fico com isso, não sei se usaria a palavra ídolo, é muito forte, mas eu não diria ídolo.

Agora como auxiliar, pisando no gramado todos os dias, deu saudade de voltar a jogar?
- Deu saudade quando foi a inauguração do estádio, o gramado estava igual a uma mesa de sinuca, lindo! O estádio muito lindo e deu saudade sim. Deu vontade de pisar ali para jogar, mas já passou. E passa rápido, veio em um minuto e depois passou, a gente sabe que o tempo passou e agora não tem como voltar mais. Mas, as boas lembranças permanecem. Eu fiquei muito feliz e lisonjeado de fazer parte da história do Lyon como jogador, mas agora estou muito feliz de fazer parte da comissão técnica.

Como você quer construir sua vida daqui para frente?
- Primeiro quero terminar meu curso. Estou focado nisso, em fazer um bom trabalho, ajudar o clube, o treinador no trabalho de campo também. Quero crescer cada dia mais nessa profissão e ai depois, daqui uns anos, quem sabe começar a carreira de treinador. Por enquanto, é crescer nessa função de auxiliar e depois dar sequência.

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