Há oito anos na Europa, brasileiro superou morte do pai para seguir o sonho e pretende defender a Bulgária

Hoje no Cracóvia, da Polônia, o polivalente Diego Ferraresso foi para o exterior com apenas 16 anos, depois de perder o pai. Em entrevista ao LANCE!, ele conta sua experiência

Diego Ferraresso, com a camisa 87, em ação pelo Cracóvia
(Foto: Site oficial/Cracóvia)

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Há uma velha expressão popular que diz que o cavalo só passa selado uma vez na vida. Todo profissional vai viver ou já viveu uma situação como essa. No entanto, o jogador de futebol convive com isso de uma forma mais intensa e muito mais precoce. Foi o caso de Diego Ferraresso, brasileiro que atualmente defende o Cracóvia, da Polônia. Aos 16 anos, ele recebeu um convite para atuar na Bulgária, mas um baque inesperado quase colocou um ponto final na oportunidade: a morte de seu pai. A tristeza, porém, não foi páreo para impedir a realização de seu sonho.

- Eu não queria desperdiçar a minha oportunidade, porque meu pai sempre me falava que se eu quisesse alguma coisa eu teria que ir buscar, nada vem de mão beijada. Então decidi pegar minhas coisas e ir atrás do que eu queria - contou ao LANCE!

Clubes anteriores:
Litex Lovetch-BUL
​FC Chavdar-BUL
​Lokomotiv PLovdiv-BUL
​Slavia Sofia-BUL

Hoje, aos 24 anos, oito deles jogando futebol na Europa, Diego está no início de uma nova jornada ao defender as cores de seu novo time, na Polônia. Depois de consolidar sua passagem pela Bulgária, tornar-se cidadão do país e registrar marcas significativas, ele quer continuar sua gradual evolução.

- Vim como juvenil para a Europa, joguei um mês na base e já subi para o profissional, fui jogando constantemente, me tornei o jogador mais novo a fazer um 'hat-trick' (três gols em uma mesma partida) no Campeonato Búlgaro, com 17 anos, e minha carreira foi crescendo. Espero que nesta temporada, agora na Polônia, a gente possa fazer um bom campeonato, de preferência com o título, e tentar disputar vaga na fase de grupos da Liga Europa ou da Champions League - afirmou.

"A vida bate muito na gente, precisa ter cabeça. Ao mesmo tempo que o futebol ajuda, ele pode destruir"

Essa duradoura passagem pelo Velho Continente é fruto de um trabalho de consciência e maturidade, adquirida precocemente ao se deparar com situações que a vida impôs em sua trajetória. A transição da adolescência para a fase adulta foi "atropelada" pela responsabilidade.

- Tive que amadurecer muito porque a vida bate muito na gente, não podemos depender só de outras pessoas, então acho que por eu ter vindo para cá, eu me tornei uma pessoa mais responsável, não um "moleque", como a gente fala no Brasil. Com 17 anos, eu já tinha me tornado um homem. Precisa ter cabeça, ter a família presente, te ajudando, acho que isso é o mais importante. Ao mesmo tempo que o futebol ajuda, ele pode destruir - destacou.

Palavras de quem respeita o esporte e as consequências que ele pode trazer. Meio-campista e ponta esquerda de origem, hoje atua na lateral esquerda. Consciente de sua importância, vê o jogo como algo coletivo, alheio aos interesses individuais, pensamento ao qual também se acostumou durante o período europeu de sua formação humana e profissional.

- Vejo muitos jogos e entrevistas de jogadores aí no Brasil, que depois de o treinador optar por não colocá-los em campo, começam a fazer críticas. Eu acho que isso não é bom para o grupo, porque é o treinador quem manda, se ele achar que deve te colocar com titular, ou se achar que deve te deixar no banco, você tem que estar pronto a qualquer momento para entrar em campo e ajudar o time.

Embora já se sinta um jogador no estilo europeu e com o objetivo de defender as cores da seleção búlgara, Diego não esquece de um sonho antigo de jogar em seu país de origem e, quem sabe, vestir a camisa de seu clube de coração: o Santos.

- Tenho o sonho de jogar no futebol do Brasil e tenho meu time do coração que é o Santos. Se eu pudesse, voltaria ao meu país para defender qualquer clube, sem restrições. Sou novo ainda, mas se tiver alguma proposta boa, temos que estudá-la, embora a gente precise ver a nossa segurança também - finalizou.

Confira a entrevista completa com Diego Ferraresso:

Como tem sido sua adaptação ao novo clube?
Muito boa, o país também é muito bom, a cidade é boa. O clube eu não esperava que fosse tão bom e com toda a estrutura que eles oferecem, então foi uma adaptação muito rápida.

E em relação à língua, tem sido um problema?
Então, ela é um pouco diferente do búlgaro, joguei oito anos na Bulgária, tem sido um pouco diferente, mas algumas coisas são muito parecidas, dá para conversar um pouco em polonês, um pouco em inglês.

Sentiu muita diferença entre o futebol búlgaro e o futebol polonês?
Senti, senti. O futebol polonês é melhor do que o búlgaro, porque na Bulgária é muito mais pegado, muito mais chutão. Aqui, pelo que eu percebi, é mais parecido com o brasileiro, gostam de jogar com a bola no pé, também é pegado, mas eles preferem jogar tocando a bola, fazendo mais "um-dois", trabalhando mais a bola mesmo.

O Deleu (outro brasileiro do elenco) está te ajudando neste início de temporada?
Sim, eu tenho um amigo que jogou comigo na Bulgária e jogou aqui na Polônia também, ele me indicou o Deleu e disse que ele poderia me ajudar no que eu precisasse e realmente ele está me ajudando aqui, quando eu não consigo entender alguma coisa, ele traduz, me explica, vai comigo resolver alguns negócios.

O técnico de seu time, aparentemente, faz um rodízio na escalação de jogadores. Como você lida com isso?
Pra mim é tranquilo, porque eu cheguei agora, então por isso joguei três jogos, teve a parada da data Fifa também, sou o tipo de jogador que se eu estiver em campo, vou ajudar meus companheiros e se eu estiver fora também, tudo o que meu grupo e meu treinador precisarem, eu vou fazer.

Você se considera um jogador com estilo europeu ou ainda tem o diferencial brasileiro?
Eu me sinto um pouco de cada, porque já faz oito anos que estou fora do Brasil, então me acostumei com o estilo daqui, muito pegado, muita força física, mas a gente não tem como esquecer o nosso toque brasileiro. Acho que sou 50% de cada.

"Tenho o sonho de jogar no futebol do Brasil e tenho meu time do coração que é o Santos"

Quem foi com você para a Bulgária?
Eu vim sozinho, depois minha mãe veio. Eu cheguei em junho e minha mãe em setembro. Eu não podia jogar pelo profissional, porque ela precisava fazer um documento passando a minha guarda para um tutor daqui, ficou um mês e eu continuei.

Você é um cidadão búlgaro, acha que tem a possibilidade de jogar pela seleção da Bulgária?
Na verdade eu consegui a cidadania búlgara por causa disso, eles queriam me levar para seleção, porque sentiam falta de um lateral-esquerdo, mas eu nunca havia jogado como lateral, minha posição sempre foi meio-campo e ponta. Em um jogo o treinador me colocou de lateral, eu fui bem, o presidente do meu clube estava vendo o jogo com o treinador da seleção sub-20, eles gostaram e me perguntaram se eu aceitaria jogar de lateral, eu respondi que poderia tentar. Eles começaram a fazer meu passaporte, eu fui convocado pela seleção sub-20, fiquei treinando três dias com eles, mas eu não podia jogar campeonato, pois ainda não tinha o passaporte. Só que depois que eu consegui, nunca mais fui chamado.

Então jogar pela Bulgária faz parte de seus objetivos?
As pessoas falam que eu sou brasileiro, questionam se eu não tenho o sonho de jogar pela seleção do meu país, etc. Todo mundo tem o sonho de jogar pela Seleção Brasileira, mas a Bulgária abriu as portas para mim, eu considero minha segunda casa, então se eu tiver essa oportunidade de representá-los, eu vou fazer isso.

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