‘Deve estar cheio da grana, né?’, a história do brasileiro que pagou R$ 9,4 milhões por clube inglês

Diego Lemos é filho e sobrinho de ex-jogadores. Vivendo há oito anos no Catar, virou dono do Morecambe, da 4a divisão da Inglaterra. "Sempre quis um clube para comprar", afirma

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Diego Lemos é filho de Luizinho, ex-atacante de América e Flamengo e sobrinho de Cesar Maluco (foto:Divulgação)

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O brasileiro Daniel Lemos, 35 anos, passeava na semana passada pelo centro de Morecambe, cidade de 34 mil habitantes no nordeste da Inglaterra. Apesar do frio, usava apenas uma camisa de manga curta. Foi o bastante para conquistar simpatia dos locais.

- Ele é do Rio de Janeiro e estava andando na rua só de camiseta com a temperatura de 10 graus. É um dos nossos – observou um dos integrantes do site Shrimpvoices, que reúne torcedores do Morecambe Football Club, da quarta divisão do futebol inglês.

As respostas ao comentário foram de aprovação porque, teoricamente, Lemos tentava se incorporar à cultura local.

Ele é o primeiro brasileiro a comprar um clube de futebol profissional na Inglaterra. Na semana passada, a English Football League aprovou a venda de 80% das ações do Morecambe para a G50 Holding Limited, que tem Diego Lemos como proprietário.

- Minha família é toda envolvida em futebol e eu sempre quis achar um clube para comprar. Procurei vários ao redor do mundo, mas meu objetivo sempre foi a Inglaterra. É o futebol mais organizado, o mais rico. Sempre quis isso – explicou Lemos.

Daniel é filho de Luizinho Lemos, artilheiro histórico do América-RJ e ex-Flamengo. É sobrinho de Cesar Maluco, um dos maiores nomes da história do Palmeiras, e Caio Cambalhota, campeão carioca por Botafogo e Flamengo.

- Eu ouvi dizer que ele tinha comprado um clube na Europa. Deve estar cheio da grana, né? - reagiu Cesar Maluco ao saber da novidade.

Estar “cheio da grana” pode ser um conceito relativo, mas os registros públicos de empresas no Reino Unido mostram que na semana passada a G50 Holding pagou 2.220.575,00 libras esterlinas para adquirir 80% do clube. Pela cotação oficial da última sexta-feira (30 de setembro), são R$ 9,4 milhões.

- Vou para lá conhecer. Diego estava com esse plano faz tempo e agora aconteceu. Ele estava no Brasil e viajou para a Inglaterra para resolver tudo – completa Luizinho.

Mesmo antes de fechar negócio, Lemos passou algum tempo na cidade. Foi a jogos do Morecambe e interagiu com torcedores. Pelas discussões na Shrimpvoices, conversou com os fãs e disse precisar analisar as fontes de receitas do clube e o que pode ser feito de forma diferente na administração. Posou com fotos na Globe Arena, estádio do time com capacidade para 6.476 pessoas.

- Não vamos mudar tudo de uma hora para a outra. É preciso tempo. Vamos evoluir aos poucos, com cuidado e trabalhando com seriedade – discursa o novo dono.

Daniel Lemos, o Morecambe ou a English Football League não dão detalhes do negócio, mas há investidores do Catar associados à negociação de compra. Lemos mora em Doha, capital do país árabe, desde 2008. Agente de futebol, fez seu principal negócio com o Brasil ao levar Jobson, ex-Botafogo, e seu histórico de problemas para a Arábia Saudita.

O empresário aparece nos registros ingleses como único sócio da G50, mas também é dono de outra empresa, a Sport99 Limited. Até o início de julho, esta tinha como diretor Jordan Saul Burnard, um inglês de ascendência árabe de 23 anos. As duas estão registradas no mesmo endereço, que serve de sede para outras 20 companhias.

A preocupação do brasileiro nas declarações é não passar a imagem de que vai investir pesadamente em reforços. Prefere mostrar ser um dono que vai cuidar do patrimônio do Morecambe. Já garantiu que o técnico Jim Bentley vai continuar. Em entrevista para a BBC Radio Lancashire, não descartou a contratação de jogadores brasileiros. É mais difícil do que parece porque, se não tiver passaporte europeu, o atleta precisa de visto de trabalho e o clube deve provar, de acordo com a lei do país, que o contratado possui “reconhecido talento internacional”. Não é uma tarefa fácil na quarta divisão inglesa.

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No estádio, brasileiro tirou foto com torcedores (foto:Divulgação)


- Eu gostei de tudo na cidade e fui muito bem recebido por todo mundo. Fizeram com que eu me sentisse bem-vindo. A cidade é pequena, o clube é de família. Sei que vão entender o que pretendemos fazer por aqui – garante.

A exigência não será tão grande assim. O Morecambe está na quarta divisão desde 2007, mas antes disso passou a maior parte de sua história de 96 anos em patamares ainda menores da pirâmide do futebol britânico. Abaixo da quarta, os clubes são considerados semi-profissionais ou amadores. A meta é, em um curto espaço de tempo, brigar para subir. No momento, está em 9o na tabela. O último título foi a Lancashire FA Challenge Cup em 2004, um torneio irrelevante para os principais clubes do país.

Apesar da operação de marketing pessoal de Lemos, nem todos os torcedores embarcaram 100% nos planos do brasileiro. Nos fóruns de torcedores, alguns desconfiam.

- Eu acho que ele está na mesma situação do (ator) Richar Pryor naquele filme “Chuva de Milhões” - ironizou no Shrimpvoice um integrante que tem o apelido de Mr.Potato Head.

No longa metragem de 1985, o personagem de Pryor precisa torrar US$ 30 milhões em uma semana para conseguir herdar US$ 300 milhões. De brincadeira, vários postaram frases em português no site, usando o Google Tradutor. Até descobriram como é o apelido do time, “Shrimp”, na língua do novo dono.

- Vamos, camarão! - escreveram.


FICHA TÉCNICA 

Morecambe Football Club
Apelido: Shrimps (Camarões)
​Fundação: 7 de maio de 1920
​Divisão: League Two (4a divisão inglesa)
​Principais títulos: Vice da Conference (5a divisão) em 2003, campeão da FA Trophy em 1974, campeão da Conference League Cup em 1978.

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