‘Desconhecido’ no Brasil, Raffael se diz adaptado ao estilo de vida alemão

Há 12 anos na Europa e habituado ao frio, artilheiro do Gladbach destaca temporada, conta como foi assistir a derrota do Brasil, na Alemanha, e revela sonho de chegar à Seleção<br>

Raffael é a esperança de gols do Mönchengladbach (Foto: AFP)
Raffael é a esperança de gols do Mönchengladbach (Foto: AFP)

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O jeito calmo de falar remete à tranquilidade que Raffael demonstra quando está cara a cara com o gol. O atacante brasileiro do Borussia Mönchengladbach mostra que aos 31 anos, continua sendo a principal referência ofensiva da equipe alemã. Em 27 partidas disputadas nesta temporada da Bundesliga, o camisa 11 marcou 13 gols e deu 10 assistências. Os números comprovam a boa fase do jogador, que acredita viver o melhor momento de sua carreira.

- Penso que nesses três anos eu venho mantendo uma regularidade muito boa. Estou ajudando minha equipe tanto com gols, quanto com assistências. Esse, sem dúvida, é o melhor momento da minha carreira - disse Raffael, em entrevista por telefone ao LANCE!

Desde 2013 no Gladbach e há mais de dez anos na Europa, o jogador conta que está bastante habituado ao estilo de vida alemão.

'Gosto da maneira como os alemães vivem. Posso dizer que sou até meio alemão' 

- Gosto da maneira como os alemães vivem. Posso dizer que sou até meio alemão. O idioma eu consigo falar, mas no começo tive dificuldades. Vim de um país e de uma cidade muito quentes, não tinha tido contato com tanto frio. Adaptar-se ao clima foi o mais difícil, mas com o passar do tempo, já são 12 anos de Europa, não é mais um problema, até gosto quando esfria - revelou.


Na Alemanha, Raffael ainda jogou pelas equipes do Hertha Berlim e Schalke 04, em 2008 e 2013, respectivamente. Antes disso, passou pelo futebol suíço e ucraniano. No Brasil, no entanto, a experiência se resume ao início da carreira, somando passagens por times de futsal e depois com o Juventus, clube do tradicional bairro da Mooca, em São Paulo. 'Desconhecido' no Brasil, o atacante diz não arrepender-se de ter apostado no futebol europeu.
- Eu não me arrependo. Não penso assim. Eu acho que tive a oportunidade de ter ido para a Europa e aceitei. Deu certo, estou jogando em uma grande liga, o campeonato é competitivo, então estou feliz - declarou.

O jogador, disciplinado taticamente, conta que não pensa em encerrar a carreira tão já. A hipótese, aliás, passa longe do que projeta para seu futuro.

'Não passa pela minha cabeça parar. Acredito que ainda tenho mais alguns anos para jogar e espero continuar nesse nível até uns três ou quatro anos'

- Estou muito bem fisicamente. Eu nunca tive lesões graves que me fizessem ficar parado por um longo tempo. Acho que é cedo, não passa pela minha cabeça parar. Acredito que ainda tenho mais alguns anos para jogar e espero continuar nesse nível até uns três ou quatro anos - contou.

Mais alguns anos, porém, jogando na Alemanha, lugar pelo qual demonstrou guardar boas recordações. No entanto, apesar de todo o carinho pelo país bávaro, Raffael ainda sim é brasileiro e conta sobre o 'choque' que foi assistir aos 7 a 1 na Copa do Mundo, longe de sua terra natal.

Antes de enfrentar o lanterna, Hannover 96, às 15h30, na HDI Arena, nesta sexta-feira, o jogador nascido em Fortaleza também conta ao LANCE!, que o Brasil não deixou de ser o país do futebol. O Cearense ainda diz que a Seleção canarinho sempre foi um sonho e que a naturalização só não aconteceu porque segue lutando para vestir a camisa verde e amarela.

Bate-Bola com Raffael:

Quais são os objetivos do Gladbach nesta temporada?
Estamos tentando brigar por uma vaga na Champions League. Temos condições de atingir esse objetivo.

E o que o clube passa para os jogadores em relação a projetos de longo prazo? Quais são as prioridades para o futuro do Borussia?
Para o futuro é manter entre as cinco, três maiores equipes da Alemanha. Temos o objetivo de estar sempre brigando entre as primeiras posições. O vice-presidente já falou que queria ser campeão, ganhar um título, quem sabe no futuro vamos brigar pelo título.

Como se dá a preparação para os jogos na Alemanha?
Logo no começo da semana o treinador procura destacar as qualidades dos adversários para sabermos onde temos que marcar, que atacar, encontrar uma maneira de dificultar para o adversário. É assim a semana toda, a gente estuda, vemos vídeos dos adversários, é assim que nos preparamos.

O que o técnico André Schubert costuma pedir como proposta de jogo e como é o seu relacionamento com ele?
Ele sempre bate na mesma tecla. Pede para que todos ajudem na parte defensiva. Todo mundo tem que marcar, todo jogador que está atrás da linha da bola. Sempre fala que precisamos voltar para marcar, porque na frente podemos decidir a qualquer momento. Nosso treinador, ele é uma pessoa bem aberta para todos os jogadores. Você pode vir para ele em qualquer momento. Ele deixa isso bem claro. Para você falar o que quiser, falar de tudo, é uma relação muito aberta. Muito, muito, boa.

O Gladbach é um clube bastante tradicional da Alemanha. Quando você chegou ai, teve alguém responsável por explicar a história do time, quem são os ídolos, quais são os rivais, ou isso vem com o tempo de clube?
Teve uma pessoa encarregada de apresentar o clube. Como que são os torcedores, como foi no passado. E todo jogador novo que chega aqui, acontece isso. Sempre somos informados sobre a grande história que o Borussia teve no passado.

E quanto ao torcedor do Gladbach? Como você os define?
Eu costumo de chamar o torcedor do Borussia de louco, porque é incrível o que eles fazem em jogos, tanto dentro, quanto fora de casa. Não param de cantar em nenhum momento. Sempre estão apoiando, mesmo que o time vai mal, mesmo se estiver perdendo, é assim os 90 minutos.

Na Europa, você passou por três países (Suíça, Alemanha e Ucrânia). Acha que todas essas mudanças tornaram o Raffael diferente daquele que deixou o Brasil, ainda com 18 anos?
Acredito que sim. Depois de muito tempo, eu acredito que eu mudei. Aprendi muita coisa, me tornei um pessoa melhor. Aqui na Europa, por jogar com diferentes jogadores, a gente acaba criando uma visão de tudo. Tudo que acontece no Brasil, na Europa e no mundo. As vezes, no Brasil, a gente não tem esse contato.

Como foi assistir ao 7 a 1 na Alemanha?
Eu estava em casa com minha esposa e meus filhos. Não dava para acreditar no que estava acontecendo. A derrota deixou todos nós em choque, não esperávamos. Todo mundo ficou chocado. Todo mundo do meu clube me perguntou 'por que?, por que?'. Os alemães tiraram onda também, mas estavam no direito deles. Se fosse o contrário, a gente ia fazer o mesmo, então é normal. Depois que passou esse dia, passou a zoeira e já não tocaram mais no assunto.

Você acredita que o Brasil deixou de ser o país do futebol? Ou ainda que a Alemanha tenha assumido esse posto?
Acredito que não. Nosso país tem mais títulos de Copa do Mundo. Continua à frente de todos os outros. Posso dizer que a Alemanha se encontra em um momento melhor, mas nos temos uma Seleção qualificada, a qualquer momento pode mudar esse cenário. A Seleção ainda é muito respeitada.

Você acredita ou ainda sonha em vestir a camisa da Seleção Brasileira?
Sonho? Sempre tive esse sonho. Não custa nada sonhar, né? Claro que é difícil, mas no futebol, tudo pode acontecer.

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