Brigas na rua, xingamentos e polêmicas. Conheça Caruso Lombardi, o maior bad boy do futebol mundial

Treinador argentino tenta evitar que sua equipe caia para a segunda divisão no país. Ao L!, ele diz que se sentir confortável com conflitos: "Gosto de brigas"

Ricardo Caruso Lombardi
Ricardo Caruso Lombardi hoje é técnico do Sarmiento e está na briga para não cair para a Segundona (AFP)

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No ano passado, um amigo pediu que o argentino Ricardo Caruso Lombardi, 54 anos, então técnico do Arsenal de Sarandí, gravasse vídeo motivacional para a equipe de deficientes visuais do Huracán. Uma mensagem que apelasse para a superação de conseguir jogar futebol mesmo sem enxergar.

- Vamos a ganhar! Vamos a ganhar, cegos f.d.p! - gritou para a câmera.

Lombardi é o maior bad boy do futebol mundial. Desbocado, irreverente, brigão e politicamente incorreto. Ganhou fama no futebol argentino por salvar equipes ameaçadas pelo rebaixamento. Neste sábado, tenta repetir a mágica com o Sarmiento, que precisa derrotar o Olimpo, em Bahía Blanca, para não cair à segunda divisão. Se empatar ou perder, dependerá de resultado do Argentinos Juniors.

- Eu sou treinador. Não sou mágico. Mas eu gosto de situações assim. Gosto dessas loucuras. Gosto de brigas – disse, em entrevista ao LANCE! por telefone nesta semana.

Quando diz gostar de brigas, não é em sentido figurado. Em março, após derrota para o Rosario Central, a delegação voltava para Junín e parou em um posto na estrada para comprar sanduíches. Torcedores do próprio Sarmiento começaram a xingar os jogadores. Caruso respondeu, começou a discussão e um barra brava chamou o treinador para brigar. Ele foi.

- Eu me defendi. Eles vieram para a agressão. Fui proteger meus atletas e aconteceu aquilo. Não tenho idade mais para aguentar esse tipo de coisa. Se queriam briga, arrumaram – confessa.

A lista de confusões armadas por Caruso Lombardi faria Edmundo parecer um coroinha. Uma briga de rua sua com o ex-auxiliar do San Lorenzo, Fabian García, já foi mostrada, ao vivo, pela TV local. As imagens eram mais cômicas do que violentas porque ninguém acertava ninguém. Mas a raiva era real.

Se conseguir manter o Sarmiento na elite, o maior prejudicado será o Argentinos Juniors, o primeiro clube de expressão a dar oportunidade a Caruso, graças a um pedido de Diego Maradona, em 2007. A equipe onde começou como jogador profissional, em 1981. O time que salvou do rebaixamento em 2013.

Caruso Lombardi é a glória dos fãs do futebol alternativo, das pessoas que odeiam o bom mocismo no esporte. Muitos juram não se preocupar com o que os outros vão pensar. Poucos levam isso tão ao pé da letra quanto o treinador.

- Não me importa merda nenhuma o que pensam de mim, para te dizer a verdade. Há gente que não gosta de mim. Não gosta do que eu digo ou do meu estilo. Que me importa isso? Vou mudar por causa deles? Eu não preciso agradar ninguém.

Dizer isso é uma coisa. Colocar em prática é outra. Neste ano, ele já disse publicamente que seu time deu “papelão” em uma derrota e que tinha “asco” do elenco. Ao ser chamado de “má pessoa” pelo uruguaio Andrés Scotti, rebateu que a família do uruguaio deveria lhe agradecer pelo resto da vida porque, por causa do treinador, o jogador passou a ter chance de ser chamado para a seleção uruguaia.

- Antes de eu aparecer, a única chance de Scotti ver uma Copa do Mundo era pela TV – disparou.


Há acusações de que o trabalho de Lombardi só funciona no curto prazo. Logo ele se desgasta com o grupo por causa do seu estilo combativo. Também entra em desgaste com a imprensa e dirigentes. Ele só consegue trabalhar com confronto. Nos últimos dias, tem insinuado favorecimento ao Argentinos Juniors, clube do atual presidente interino da AFA (Associação de Futebol Argentino), Luis Segura.

- Eu uso as minhas armas. Eles (o sistema) querem que o Argentinos fique na primeira. Para isso acontecer, o Sarmiento tem de cair. Já estive em outras disputas por acesso ou descenso e estar nessas situações com times pequenos é difícil – afirma.

Ele passou pelo mesmo aperto com grandes. Dirigiu o Racing em época de vacas magras e salvou o San Lorenzo da queda nos playoffs. Considera que este foi o trabalho mais difícil que já realizou.

Cheio de inimigos e defensores, apelidado jocosamente de o “José Mourinho dos pobres”, Lombardi tem detratores. Em 2010, foi acusado de pedir dinheiro para escalar jogadores, o que quase fez com que saísse no braço com o ex-atacante Turco Asad, na beira de campo, durante uma partida entre Tigre e Godoy Cruz. O boleiro que fez acusação, Camilo Angulo Villegas, depois enviou uma carta a Caruso se retratando e o técnico a leu em uma emissora de TV nacional.

No ano passado, acabou condenado a passar por um curso “Programa de Ajuda a Homens Violentos”. Foi acusado de agredir verbalmente e fisicamente a ex-mulher, Maria Isabel Rossetti, com quem foi casado por 20 anos.

É só uma lista de confusões de quem já chamou um jogador seu de “cagão”, insinuou que rival era homossexual, acusou colega de ser gigolô e prometeu “rachar no meio” o ex-zagueiro Schiavi que o criticou pelo Twitter. Pelo código de honra de Ricardo Caruso Lombardi, acusações pela internet são coisas de “covardes”.

- Eu sou um treinador de conflito. Não sou bom moço. Eu não dirijo o Boca (Juniors). Não dirijo o River (Plate). Não tenho tempo para ser bonzinho com todos. Nos (clubes) pequenos, temos de sair na porrada.

Isso significa ter tempo para regras ou convenções. O Sarmiento queria contratá-lo até o final do Campeonato Argentino. A última rodada será domingo. A ideia era fazer um contrato por dois meses, o que não é permitido pelas leis do país. O mínimo possível é um ano. A ideia de Caruso foi simples: fechar o vínculo por 12 meses, como manda a legislação. Ao mesmo tempo, assinar uma carta de demissão, com data de segunda-feira, 23 de maio de 2016.

A estratégia é malícia pura e estar no limite do permitido. Lombardi adora essas coisas. A imprensa também. Ele foi procurado por jornalistas para dar sua opinião sobre o imbróglio envolvendo o atacante Pablo Daniel Osvaldo. Este foi afastado do elenco do Boca Juniors por ter sido flagrado fumando no vestiário.

- Se eu vejo um jogador meu fumando no vestiário, fico perto dele e peço para dar um trago.

É declaração proposital para ganhar manchetes. Mas não significa que não pense realmente isso. Caruso pensa longamente antes de responder se considera ser desnecessariamente desbocado.

- As pessoas preferem dizer sempre que Caruso é um desbocado. Que Caruso é louco. Caruso é desequilibrado. Ninguém nunca diz que Caruso não mente. Caruso não foge. Caruso trabalha como um alucinado. E Caruso é capaz de ganhar partidas de futebol com times que não têm nada.

"Se eu vejo um jogador meu fumando no vestiário, fico perto dele e peço para dar um trago


O próximo da lista de Ricardo Caurso Lombardi, o maior bad boy do futebol mundial, é o Sarmiento de Junín.




BATE-BOLA COM CARUSO LOMBARDI

1. Você só trabalha se for com conflito?
Antes de tudo, eu sou um trabalhador do futebol. Não sou um milionário que estou com a vida feita e posso ficar filosofando. Cada final de semana, é uma luta por 90 minutos.

2. Há clubes que lhe devem salários atrasados?
Vários. O Arsenal, por exemplo, me deve quatro meses e meio. Você acha que está bem assim?

3. Você tem esse estilo como treinador. E quando jogava? Era igual?
Não era muito diferente. Se tivesse de dar um passe, dava. Se tivesse de dar uma pancada no adversário, dava. O que viesse pela frente, enfrentava.

4. Você jamais dirigiu Boca, River ou foi cogitado para a seleção. É algo que pensa?
Quem poderia dizer não para a seleção? Claro que aceitaria. Armaria muitos quilombos lá, pode ter certeza.

5. Você garante que o Sarmiento não vai cair?
Como eu vou garantir alguma coisa? Quer que eu seja o quê? Mágico? Se você quiser que eu garanta vitórias, me dê o time do Barcelona para dirigir.


AS CONFUSÕES DO BAD BOY


Caruso x Andrés Scotti (2008) – O zagueiro uruguaio, então no Argentinos Juniors, disse que o técnico era má pessoa. “A família de Scotti tem de me agradecer porque hoje ele tem um milhão de dólares na conta. Antes de mim, a única chance dele ver a Copa do Mundo era pela TV”, devolveu o treinador.

Caruso x Diego Placente (2009) – O lateral acusou Caruso Lombardi de ter sido responsável pela sua saída do Argentino Juniors. O técnico respondeu em um pronunciamento de dez minutos em que chamou o atleta de “cagão”.

"Como eu vou garantir alguma coisa? Quer que eu seja o quê? Mágico? Se você quiser que eu garanta vitórias, me dê o time do Barcelona para dirigir.


Caruso x Turco Asad (2010) – Os dois técnicos discutiram à beira do campo durante jogo entre Tigre e Godoy Cruz. Asad esfregou o polegar no indicador na direção de Lombardi, lembrando acusação de que o rival recebia dinheiro para escalar jogadores. Caruso tentou ir para a briga.

Caruso x Roberto Trotta (2010) – Em um programa de debate esportivo, o ex-volante do Velez Sarsfield acusou o rival de roubar jogadores de outros times. Caruso o chamou de “gigolô”.

Caruso x Rolando Schiavi (2010) – O ex-zagueiro do Boca Juniors publicou mensagens no Twitter criticando o treinador. Caruso disse que o “racharia no meio” e reclamou que acusações pela internet eram coisas de covarde.

Caruso x Chori Domínguez (2012) – Técnico do Quilmes, iniciou uma discussão com o meia do River Plate durante partida entre as duas equipes no Monumental. Caruso ironizou o armador fazendo gestos como se estivesse arrumando o cabelo para insinuar homossexualidade de Chori.

Caruso x Fabian García (2012) – Irritado pelas críticas de Caruso, Fabian García, assistente técnico de Leonardo Madelón no San Lorenzo, esperou pela saída do treinador de um programa da TyC, emissora de esportes de Buenos Aires. Os dois saíram no braço no meio da rua e o canal mostrou as imagens.

Caruso x Carlos Bueno (2013) – Segundo o atacante, cada jogador receberia 400 mil pesos para livrar o San Lorenzo do rebaixamento. Caruso teria avisado o elenco que seriam 300 mil, despertando suspeita de que desviaria 100 mil. O técnico processou e depois fez as pazes com o jogador.

Caruso x Torcida do Sarmiento (2016) – O técnico entrou em confronto físico com barras bravas do clube na viagem de volta de Rosári para Junín.

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