OPINIÃO: Flamengo 6 x 0 Botafogo: Forra de 81 valeu como um título

Colunista do LANCE!, Roberto Assaf, relembra goleada rubro-negra sobre alvinegros, que completa 34 anos, neste domingo, e diz que resultado significou muito para time de Zico

Flamengo 6 x 0 Botafogo
Flamengo goleou Botafogo em mês histórico (Reprodução/YouTube)

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Só o rubro-negro que passou anos a fio aturando aquela pequena e desengonçada faixa exibida pela torcida do Botafogo - "6 x 0" - em todos os jogos contra o Flamengo tem a consciência exata do que representou a forra da goleada, numa tarde cinzenta de domingo, 8 de novembro de 1981.

O time de General Severiano construiu o seu placar em 15 de novembro de 1972, em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. O resultado foi surpreendente porque os times eram equivalentes. Mas aconteceu. Daí em diante, entrava ano, saía ano, e lá estava a faixinha, esfarrapada nas pontas, com seus números meio tortos.

O Flamengo, na prática, teve duas chances de devolver o placar. A primeira, em 19 de julho de 1975, quando fez 3 a 0 em 13 minutos e começou a diminuir o ritmo, levando a torcida ao desespero. Nem o quarto gol, no finzinho, foi capaz de evitar os protestos: os jogadores foram xingados na saída do Maracanã e dois deles tiveram seus carros quebrados.

A segunda chance surgiu em 18 de março de 1979, quando o Flamengo meteu 3 a 0 em 40 minutos e voltou para o segundo tempo fazendo o tempo passar. Dessa vez, não houve quebra-quebra, mas a torcida rubro-negra, maioria esmagadora entre os 128.106 pagantes, deixou o estádio para lá de frustrada.

No dia 8 de novembro de 1981, o público era menor, quase a metade: 69.051. Chovia no Rio desde sábado e o torcedor guardava o seu dinheiro para o primeiro jogo da decisão da Libertadores, previsto para dentro de cinco dias. Pouco importa. Nunes fez 1 a 0 aos 7 minutos, Zico 2 a 0 aos 27, Lico 3 a 0 aos 33 e Adílio 4 a 0 aos 40. A massa não se conteve. "Queremos seis! Queremos seis! Queremos seis!". Era ali ou nunca.

Pois a apreensão já tomava conta de todos com meia hora de segundo tempo, quando Adílio invadiu a área pela esquerda e foi derrubado por Rocha. Zico cobrou o pênalti e meteu o quinto. Ainda havia um bom tempo para marcar o golzinho que faltava. E o coro das arquibancadas recomeçou, uníssono, forte, cada vez mais exigente. Já no desespero, cabeça abaixada, mãos entrelaçadas, um torcedor típico, cada vez mais raro nos estádios de hoje, comentou. "Esse troço não vai sair".
Mas o time foi para a frente. Afinal, vários craques daquele esquadrão formidável haviam sido criados na Gávea, e também exigiam a redenção. A pressão se tornou insuportável. Aos 42 minutos, a zaga rebateu, e Andrade, que vinha na corrida, chutou forte, de primeira, sem chance para Paulo Sérgio. Seis a zero. Sem choro nem vela.

Um detalhe: Jairzinho estraçalhara no jogo de 1972 e havia voltado ao Botafogo, já veterano, aos 37 anos de idade. E ao entrar em campo, naquele segundo tempo da partida de 1981, acabou tornando-se um símbolo da forra absolutamente formidável e inesquecível para todos os que passaram nove anos seguidos aturando a faixinha presa na grade do outro lado da arquibancada do Maracanã.

Para que se tenha uma idéia da força do Flamengo da época vale lembrar também que ainda naquele 1981, num intervalo do calendário, o time foi à Itália disputar um torneio: meteu 5 a 1 no Avelino e 5 a 0 no Napoli, no Estádio San Paolo lotado, com Zico inspiradíssimo, mandando prender e soltar. E olha que o melhor ainda estava por vir. Num espaço de 21 dias, o Flamengo conquistou a Copa Libertadores, 23 de novembro, o Estadual, 6 de dezembro, e o Mundial Interclubes, 13.

Mas o fato é que a forra do 6 a 0 também valeu como um título.

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