Pela filha, Clodoaldo adia aposentadoria e vai para a Rio-2016

Aos 37 anos, nadador paralímpico quer realizar o sonho da pequena Anita e <br>também se despedir dos Jogos diante da torcida brasileira

Clodoaldo Silva e a filha Anita
Clodoaldo Silva terá a torcida da filha Anita na quinta paralimpíada da sua carreira (Foto: Divulgação/Nissan)

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Aos 37 anos, Clodoaldo Silva, atleta da Equipe Furnas, se prepara para a quinta paralimpíada da sua carreira. A aposentadoria poderia ter sido anunciada após os Jogos de Londres-2012, mas foi adiada por dois motivos: o fato de a próxima edição ser no Rio de Janeiro, diante da torcida brasileira, também por causa da filha Anita, que completará 5 anos em novembro, e é uma das maiores incentivadoras do pai, junto à esposa Patrícia. Clodoaldo teve paralisia cerebral devido à falta de oxigenação no parto, o que afetou o movimento das pernas e compete na natação paralímpica desde 1998.

- No final da Paralimpíada de Londres-2012, falei que queria continuar, pela pressão - no bom sentido - da equipe, e das milhares de mensagens que recebi de todo o Brasil, mas principalmente porque a próxima paralimpíada seria no Brasil, e pela minha filha - disse o "Tubarão Paralímpico", como é conhecido, em entrevista ao site Brasil2016.

Clodoaldo, que estreou em paralimpíadas nos Jogos de Sydney-2000, é dono de 13 medalhas (seis de ouro, cinco de prata e duas de bronze). Até Atenas-2008, ele pertencia à classe funcional S4 - no esporte paralímpico, os atletas são divididos em categorias (classes) de acordo com o grau do comprometimento físico. Mas, na véspera dos Jogos de Pequim-2008, ele foi reclassificado pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC, em inglês) e passou a ter de competir na classe S5. Foi um divisor de águas na carreira do Tubarão.

- Em 2008, decidiram alterar minha classificação e me colocaram na S5, onde eles têm uma funcionalidade maior que a minha. Eu consigo sair de cima do bloco, mas não tenho impulso, e na S5 eles têm. Numa prova de 100m, na caída eles têm ondulação, eu não tenho. Eles têm a virada olímpica, eu não. Ou seja, na questão da deficiência, eles têm o menor grau. Quando fomos reivindicar, eles (Comitê Paralímpico Internacional) disseram que a classificação estava mudando para todo mundo, mas naquele momento só mudou para mim - contou Clodoaldo.

Antes da reclassificação, em 2004, ele viveu o grande momento do esporte paralímpico brasileiro: faturou sete medalhas em oito provas.

- Em Atenas-2004, o Brasil ganhou 14 ouros, e eu saí de lá com seis ouros e uma prata. O Brasil começou a conhecer as Paralimpíadas e os atletas. Ali me tornei referência do segmento das pessoas com deficiência. Veio visibilidade, investimento, surgiram novos atletas, como Daniel Dias, André Brasil, no atletismo com Alan Fonteles, e tantas outras modalidades - avaliou o nadador, ainda em entrevista ao site.

Em Pequim-2008, depois da chuva de medalhas em Sydney-2000 e Atenas-2004, Clodoaldo ficou apenas com um bronze e uma prata no revezamento. Mas ele dá mais uma mostra de superação e fala do atual momento:

- Nunca fui de lamentar, de me fazer de vítima, continuei normalmente, e foi a melhor decisão da minha vida. Hoje ganho menos medalhas, mas sou muito mais reconhecido, ganho mais dinheiro. Acho que é mais uma história de superação, não se pode desistir nas dificuldades, tem que estar sempre se reinventando - disse.

Nos Jogos do Rio, em setembro, Clodoaldo vai disputar cinco provas: 50m, 100m e 200m livre, 50m borboleta e revezamento 4x50m livre misto. Ele acredita ter chance de medalhas nas duas primeiras e acha que pode surpreender nas demais. Mas, hoje, ele garante que o principal objetivo na carreira é chamar a atenção para o esporte paralímpico e ao respeito à pessoa com deficiência.

- Anita fala: ‘papai, você vai ganhar o ursinho pra mim e a medalha pra mamãe'. Mas não me sinto pressionado. Acho que vou conseguir contribuir muito mais sendo atleta do que como dirigente ou de outra forma. E não é estar no lugar mais alto do pódio necessariamente. As paralimpíadas têm um recado para a sociedade brasileira: as pessoas com deficiência não são coitadinhas, não precisam de piedade, precisam de oportunidades, de ter as leis respeitadas. É essa mensagem que a gente vai passar e espero que seja o maior legado dos Jogos - disse Clodoaldo.

O Tubarão treina atualmente em um centro de referência da natação em São Caetano do Sul (SP) com mais dez nadadores da seleção e uma equipe multidisciplinar de 11 pessoas formada por três técnicos, dois fisioterapeutas, um nutricionista, um massoterapeuta, um psicólogo, um biomecânico, um preparador físico e um médico.

- Pela primeira vez eu fui para um centro de treinamento, tenho uma permanência com outros atletas, estamos tendo um investimento inédito, uma estrutura que nunca tínhamos, vou chegar muito bem nos Jogos - disse Clodoaldo, que tem patrocinadores e conta com a Bolsa Pódio do Ministério do Esporte.

O nadador já tem planos para a vida de ex-atleta após os Jogos, como por exemplo morar no Rio – onde já vivem Anita e a esposa Patrícia - e trabalhar com comunicação social.

- Uma pessoa com deficiência, com a história que tive e tenho, acho que pode colaborar, não só para divulgação do esporte, mas da cidadania, da inclusão. A gente pouco vê nas redações pessoas com deficiências falando do segmento - analisou.

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