Pedaladas pela vida de Edson Nascimento

Atleta da Equipe Furnas, paraciclista conta como esporte foi um divisor de águas na história dele após acidente de carro sofrido em 2005

Paraciclista Edson Nascimento
Edson Nascimento vem disputando o Brasileiro de paraciclismo (Foto: Reprodução/Facebook)

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Em 2005, Edson Nascimento era um gerente de banco que fazia esporte para se manter bem fisicamente. Academia, uma pelada de futebol ou de vôlei, nada muito puxado. Mas um acidente de carro, que o deixou paraplégico, foi um divisor de águas na vida dele. Para se adaptar à nova rotina, muita fisioterapia nos primeiros anos até conhecer em 2011 o projeto da ONG Praia Para Todos, no Rio de Janeiro, que promove a inclusão do deficiente na sociedade através de esportes. Dali para as competições foi tudo muito rápido para ele ser chamado de paraciclista, algo que não parecia ser suficiente para o atleta, que faz parte da Equipe Furnas.

No projeto, que funciona na Praia da Barra da Tijuca, Edson conheceu a handbike, bicicleta adaptada para a disputa do paraciclismo. A primeira que ele usou pertencia à ONG. A identificação que teve com o equipamento foi imediata e a sensação de liberdade lhe deu a certeza de que ele precisava ter uma. O preço era extremamente caro, em dólar, e a saída foi construir uma em casa, ainda “bem grosseira”, de ferro. As pedaladas iniciais foram nas ruas cariocas, em meio ao pesado trânsito, algo que não dava a menor segurança, mas só aumentava a vontade de se superar.

- No fim de 2011, consegui comprar uma bike modesta. Em 2012, lancei o desafio de fazer triatlo e aquaton (nadar e correr). Disputei também o Rei do Mar, sendo quinto no geral para deficientes e o primeiro entre cadeirante, mas acabei tendo uma lesão (escara) que me levou a uma cirugia. Aí, o médico falou “para ou escolhe um esporte que não seja tão agressivo”. Optei por ficar apenas no paraciclismo – disse Edson, que naquele mesmo ano disputou pela primeira vez o Campeonato Brasileiro do esporte, já subindo ao pódio com a segunda colocação na prova contrarrelógio na etapa de Peruíbe (SP).

Mas se o acidente de carro não conseguiu pará-lo, não seria uma cirurgia que o tiraria do esporte. Em 2013, Edson participou pela primeira vez da Maratona de Nova York. Os 42,195km foram cumpridos com a 15ª. colocação. No ano seguinte, ele foi o melhor brasileiro na prova. Mais um ano, ele se tornava o melhor da América do Sul, com o tempo de 1h36. No dia 6 de novembro deste ano, todos os caminhos o levarão à cidade americana mais uma vez.

- Já fui convidado e vou disputar de novo. Meu objetivo é melhorar meu tempo e minha colocação – afirmou o atleta, esbanjando confiança.

Além das maratonas – no Rio de Janeiro elas acontecem quase em todos os finais de semana, no Aterro do Flamengo -, Edson vem disputando a Copa Brasil de paraciclismo, equivalente ao Brasileiro da categoria. Em maio, em Araraquara (SP), foi quinto colocado na prova de resistência, enquanto na contrarrelógio a corrente arrebentou e ele não completou. No último fim de semana, no Parque Madureira, no Rio de Janeiro, sexto lugar nas duas modalidades. A próxima etapa será realizada entre 14 e 16 de outubro, em São José (SC) e a final acontecerá em Aracaju (SE) em 27 de novembro, definindo o campeão brasileiro. Para se manter bem na disputa, muito treino, geralmente entre 4h e 5h:

- Eu treinava no antigo autódromo do Rio. Com o fechamento, só restaram duas áreas de treinamento na cidade. Sempre preciso de outro ciclista para dar segurança. Costumo pedalar com a equipe Sky de ciclismo, que me dá apoio. Mas minha equipe número 1 é minha esposa, a Claudia, que me acorda e me dá força todos os dias. Sem ela, não teria a qualidade de vida que tenho, nem a superação.

O paraciclismo é uma modalidade paralímpica desde 1984, mas chamou mesmo a atenção da mídia em 2012, quando o ex-piloto de Fórmula 1 Alessandro Zanardi conquistou o ouro no contrarrelógio e na estrada. Edson sonhava estar na edição do Rio e lamenta não poder competir em casa:

- Falta incentivo do governo, faltam patrocinadores. Enquanto no exterior competem em bikes de fibra de carbono, aqui ainda estamos com as de alumínio. A diferença é de 5kg entre uma e outra (15kg para 10kg). Não temos isenção de imposto, nem ajuda de custo. No ano passado, já não pude ir para a Copa do Mundo na Suíça.

Mesmo diante das adversidades que a vida impõe, Edson segue pedalando, sempre de bom humor e servindo de exemplo para quem prefere só enxergar problema.

Apoio de Furnas para superar dificuldades
Edson Nascimento faz parte da Equipe Furnas desde 2014. A empresa é parceria do projeto Praia Para Todos e, sem ela, ele dificilmente conseguiria competir. O atleta faz questão de mostrar a todos o patrocínio, algo que fica claro no carro adaptado que possui e no equipamento esportivo.

- Furnas tem meu reconhecimento pelo esforço e pela dedicação. Sem ela, não seria possível competir. Minha contrapartida para agradecer é ganhar as competições.

A ajuda de Furnas não é só para o esporte. É também para a vida de Edson, que, pelas ruas, enfrenta todas as dificuldades que um deficiente está acostumado. Ele dirige o próprio carro, monta o equipamento, mas às vezes não consegue superar os problemas do dia a dia.

- Com as Paralimpíadas no Rio, a cidade melhorou um pouco, da estaca 10 para 50. Mas ainda deixa muito a desejar em mobilidade, educação do povo e transportes para que seja aceitável. Quem não tem carro, fica horas à espera de transporte público e sempre depende de outras pessoas para tudo. Isto acaba com o dia de um deficiente. Tenho amigos deficientes que fazem de tudo para não sair de casa.

O que aprende com as dificuldades diárias, Edson procura passar em palestras, sobretudo para crianças. Ele já participou algumas vezes dos projetos sociais de Furnas, como o Furnas Educa, e sonha com dias melhores.

- Procuro sempre falar que seu futuro você faz hoje. Sem estudo ninguém é nada. Minha maior felicidade seria que todos os alunos fossem educados de maneira correta, com atenção devida.




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