Muita força e superação

Cátia Portilho deixa para trás dramas familiares e dificuldades para brilhar no powerlifting brasileiro e mundial. Sonho é que modalidade entre nos Jogos Olímpicos no futuro

Levantadora de peso Catia Portilho
 Cátia Portilho é pentacampeã mundial na sua categoria (Foto: Reprodução/Facebook)

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Um dos maiores nomes do Powerlifting brasileiro - categoria também chamada de levantamento de peso básico -, pentacampeã mundial e recordista nas categorias Open e Master 2 até 60kg pela World Association of Benchers and Deadlifters (WABDL)- Associação Mundial de Levantadores de Peso, numa tradução livre -, a carioca Cátia Portilho, de 49 anos, atleta da Equipe Furnas, se prepara para mais um desafio. A partir de quarta-feira até domingo, ela vai representar o Rio de Janeiro no Campeonato Brasileiro de Powerlifting & Supino Equipado 2016 da Confederação Brasileira de Levantamentos Básicos - CBLB, em Florianópolis (SC).

O objetivo agora é trilhar o caminho de sucesso, títulos e recordes em outra federação, a CBLB, que representa a International Powerlifting Federation (IPF) no Brasil. Esse é o percurso que Cátia deve percorrer se quiser um dia em ser uma atleta olímpica. O Powerlifting não é um esporte olímpico. O pedido, no entanto, já está tramitando junto ao Comitê Olímpico Internacional (COI). O processo está sendo feito pela IPF, que é a federação reconhecida pela IWGA, entidade que organiza o World Games, Jogos Mundiais das modalidades não olímpicas que pleiteiam reconhecimento.

Enquanto o sonho olímpico não chega, Cátia Portilho segue dominando o esporte no Brasil e preparando o terreno. O Campeonato Brasileiro em Santa Catarina servirá de seletiva para o Sul-Americano e, se ela for bem, conquistará a vaga para o Mundial, em Tallinn, na Estônia, em outubro. A carioca vai competir na categoria Master 2. Se ela for a melhor brasileira do ranking da IPF - como é hoje na WABDL -, será a representante verde-amarela nos Jogos, caso o esporte seja mesmo incorporado ao programa olímpico no futuro.

Com uma vida marcada por tragédias pessoais e muita luta para se manter na modalidade, Cátia fala das dificuldades no esporte, do início na carreira, da rotina de atleta, do futuro e de programas sociais que ela sonha implantar, para fazer do Powerlifting um meio de recuperação para pessoas com deficiência, idosos, crianças e adolescentes de comunidades carentes do Rio de Janeiro.

Campeonato Brasileiro
Estou vindo de uma lesão (hérnia de disco) e devo pegar mais leve, mas o suficiente para me classificar para o Sul-Americano e depois o Mundial. Já cheguei a levantar 260 quilos. Em Florianópolis devo conseguir levantar metade e fazer o índice.

Idade
Estou com quase 50 anos e não me vejo abandonando o Powerlifting nunca. Essa é uma das coisas maravilhosas do meu esporte. Posso praticá-lo até os 90 anos, como vi no Mundial de 2015, em Las Vegas, um senhor de 93 anos saindo da cadeira de rodas para levantar 30 e poucos quilos e competir. Ele estava lá com a esposa. Você vai ficando velho e vai avançando de categoria e não precisa parar jamais.

Momento marcante
Um momento marcante na minha carreira foi quando ganhei o primeiro Brasileiro de Powerlifting da IPF, em 2006. Estava representando o Rio de Janeiro, sozinha, e coloquei o Estado em 4º lugar. Foi ali que eu vi que não ia parar de competir, que queria mais.
Me lembro de ter dado a primeira entrevista e de ter dito que queria campeã mundial (risos). Tinha acabado de começar! As pessoas me achavam pretensiosa, mas na verdade, eu sabia que dependia apenas da minha dedicação, esforço e disciplina.

Momentos difíceis
Tive muitos, mas o que mais me marcou foi quando fiquei sem andar, por mais de uma semana, diagnosticada com três hérnias de disco. Ali eu pensei que iria ter que mudar toda a minha vida e chorei muito. Mas, felizmente pude contar om o auxílio de uma excelente fisioterapeuta chamada Fátima Andrade, ela me fez voltar a andar e tentou tirar da minha cabeça a ideia de competir no Mundial que seria em dois meses. Ela não conseguiu e cá estou com cinco títulos mundiais, na Open e na Master, sendo que em 2015 bati dois recordes Mundiais, um na Open, e outro na Master, além de ser a melhor atleta, por índice de força, da competição.

Problemas pessoais
Sou uma pessoa forte por dentro e por fora por tudo que a vida colocou no meu caminho. Há 24 anos perdi meu pai em um acidente e nesse acidente meu irmão ficou deficiente, perdeu os movimentos do braço esquerdo. Três anos depois, ele se matou. Fiquei sem rumo, com uma filha de três meses e tendo de cuidar da minha mãe. Em 2012, estive perto da morte. Tive uma úlcera fortíssima, sangrei muito, precisei tomar transfusão de sangue e tive choque anafilático e uma parada cardíaca. Tudo isso perto do Mundial. Mas consegui me recuperar em tempo de ser campeã.

Projetos Sociais
Sou jornalista de formação e também formada em Educação Física. Quando meu irmão ficou deficiente e vi as dificuldades dele, tive certeza que uma das minhas missões era trabalhar com inclusão. Tenho um projeto de criar um CT para abrigar esportes, mas também ensinar o Porwerlifting a crianças e adolescentes carentes, abrir espaço para os idosos e também para os deficientes.

Início
Costumo falar que não fui eu que descobri o esporte e sim o esporte que me descobriu, em 2005. O vice-presidente da Confederação Brasileira de Atletas de Força (Conbrafa), na época, o Luiz Carlos Hallier, me viu treinando e ficou impressionado. Falou para eu me dedicar ao esporte, mas não dei muita bola. Fiz um teste de carga e levantei 120kg no levantamento terra, duas vezes o meu peso, sendo que nunca tinha feito levantamento terra. Eu namorava um fisiculturista na época, que ficou me dando força e acabei aceitando conhecer o esporte. Ganhei o Carioca e o Brasileiro da Conbrafa. Em seguida comecei a competi na IPF, comecei a estudar sobre os movimentos, os exercícios, os acessórios e comecei a fazer minha periodização. Na época eu já estudava Educação Fisica e foi fundamental para a minha formação como atleta. Depois do Hallier, treinei com Wolney Teixeira, presidente da Conbrafa e também com o Dragos Stanica, técnico do Levantamento Olímpico. Mas eu não quis ficar no olímpico, quis continuar no Powerlifting mesmo.

Rotina
Sou atleta, mãe, personal, dou aula em academia, me dedico aos projetos dos meus apoiadores e patrocinadores como Furnas, treino e cuido do meu corpo e da minha alimentação. Como de três em três horas, como bem, não bebo, não fumo, procuro dormir cedo, faço suplementação e amo o que eu faço. Ninguém fala que tenho 49 anos. Não pareço nem por fora, nem por dentro.

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