Juliana Veloso: ‘Vão ter que me engolir!’

Prestes a disputar os Jogos Olímpicos pela quinta – e última – vez, atleta fala da emoção de competir em casa, do que espera no Rio e não poupa críticas à CBDA

Juliana Veloso
Juliana Veloso se diz privilegiada por competir em casa (Foto: Satiro Sodré / SSPress / CBDA)

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Em 2009, quando parou de competir para ter o primeiro filho, muitos disseram que ela estava acabada para o esporte. Quando veio o segundo filho, em 2013, outros apostaram que os Jogos de Londres haviam sido a despedida olímpica dela. Todos se enganaram. Aos 35 anos, Juliana Veloso, que faz parte da Equipe Furnas, se prepara para a quinta Olimpíada com a mesma satisfação de uma estreante. Um dos maiores nomes da história dos saltos ornamentais no Brasil, esta carioca não vê a hora de começar a disputa.

- O privilégio de disputar os Jogos Olímpicos em casa é quíntuplo. Sinto o mesmo prazer que tive nas outras quatro vezes. Vai ser emocionante. Vão ter que me engolir – disse ela, garantindo que será a despedida olímpica dela.

O discurso de Juliana é um misto de orgulho e desabafo. A vaga olímpica foi conquistada na Copa do Mundo de saltos ornamentais, última seletiva olímpica e evento-teste, que aconteceu em fevereiro, no Rio de Janeiro. Com uma grande performance, a atleta avançou à semifinal do trampolim de 3m individual na nona colocação e se garantiu por méritos próprios, já que o Brasil, por ser país-sede, tem vaga garantida no salto sincronizado, no qual Juliana deve ser a escolhida para competir ao lado da parceira Tammy Galera. A falta de incentivo por parte da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), segundo ela, não irá lhe atrapalhar.

- Conquistar a vaga por mérito próprio não tem preço. Não tenho qualquer incentivo por parte da CBDA, que só investe na nova geração. Investir nos jovens é fundamental, mas investir em quem sempre ganha, inclusive deles, é obrigação. Não sei qual o problema, se há alguma perseguição, mas o investimento está sendo mal feito. Errar recorrentemente é falta de planejamento, conhecimento ou interesse. Nunca tive privilégio ou empurrãozinho para conquistar o que eu consegui – desabafou Juliana.

A insatisfação da atleta rapidamente é transformada em esperança. O melhor resultado olímpico dela aconteceu em Atenas, em 2004, quando obteve a 13ª. colocação no trampolim de 3m. Atualmente com uma série com grau de dificuldade igual à dos maiores nomes do esporte no mundo, ela se vê em condições de brigar de igual para igual por medalhas. O fato de os Jogos serem no Rio é um item a mais de motivação.

- Com certeza que esta pode ser a minha maior Olimpíada. Estava pensando em parar em Londres, mas, no Rio, eu tinha ao menos de tentar estar. Minha série atual é muito mais competitiva e o fator casa também ajuda.

Enquanto os Jogos Olímpicos não chegam, Juliana segue a rotina de treinos no Fluminense, algo que concilia com as obrigações de ser mãe de Pedro, de 6 anos, e Tiago, prestes a completar 3 anos, frutos da união com o engenheiro Roberto. Em maio, a atleta tentará manter a rotina de títulos no Troféu Brasil, algo que se acostumou a fazer desde 1996. Alguém ainda duvida dela?

Jogos Militares em 2019 estão nos planos 

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 serão os últimos de Juliana Veloso, mas engana-se quem pensa que ela encerrará a carreira ainda neste ano. Desde 2011 que ela integra as Forças Armadas, mais precisamente a Marinha, por ocasião dos Jogos Mundiais Militares, que aconteceram naquele ano no Rio de Janeiro. A atleta, que tem a patente de terceiro sargento, espera retribuir o apoio e os ensinamentos que tem recebido.

Em 2019 acontecerá a sétima edição dos Jogos Mundiais Militares, na China. Juliana estará com 38 anos, mas quer se fazer presente:

- Tenho de vontade de disputar. Sempre sonhei entrar para as Forças Armadas e é uma honra ter sido escolhida entre muitos atletas. Quero dar um retorno à Marinha, que sempre transmitiu conceitos como disciplina e respeito, algo que tanto falta à população de uma maneira geral.

Após honrar a farda que usa, Juliana não se vê trabalhando nos saltos ornamentais de alto rendimento, como técnica, por exemplo. Terminar o curso de Jornalismo, no qual faltam apenas quatro matérias por cumprir, e trabalhar com crianças estão entre os planos dela:

- O programa Furnas Educa é um exemplo. O Brasil está muito atrasado em termos de educação. Temos que formar cidadãos melhores, ensinar valores. Acho que eu poderia contribuir desta forma. Ser técnica de alto nível é algo muito distante.

Entre os maiores nomes olímpicos 

Ao disputar os Jogos Olímpicos pela quinta vez, Juliana Veloso vai se igualar a outros dois nomes dos esportes aquáticos: Rogério Romero, da natação, e João Gonçalves Filho, que foi olímpico na natação e no polo aquático. Três atletas estão no topo da lista dos mais olímpicos do Brasil, com seis participações. Torben Grael, da vela, Hugo Hoyama, do tênis de mesa, e Rodrigo Pessoa, do hipismo. Dos três, apenas Pessoa segue na ativa e no Rio 2016 se tornará, de forma isolada, o atleta mais olímpico, com sete participações.

Outros que já disputaram os Jogos Olímpicos por cinco vezes são Roberto Scheidt (vela), Fofão (vôlei), Durval Guimarães (tiro),
Reinaldo Conrad (vela), Oscar (basquete), Nelson Pessoa (hipismo) e Formiga (futebol). Destes, Scheidt já está garantido no Rio e Formiga espera convocação.


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