Daiane dos Santos: ‘Acho que vai ser uma Olimpíada excepcional para o Brasil’

Um dos ícones da ginástica artística do país, fala sobre Rio-2016, melhores momentos da carreira e os planos para o futuro

Daiane dos Santos
Daiane em palestra no Projeto Furnas Educa (Foto: Divulgação)

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Ela encantou o mundo com sua técnica, misturada com graça e samba, e entrou para a história da ginástica artística com o seu famoso "duplo twist carpado", movimento então inédito, que hoje leva seu nome, o Dos Santos 1. Gaúcha de Porto Alegre, Daiane dos Santos foi a primeira atleta da ginástica artística brasileira a conquistar uma medalha de ouro em um Campeonato Mundial - em Anaheim, nos Estados Unidos, em 2003, no solo, aos 20 anos.

Hoje, aos 33, ela conserva o rosto de menina, o sorriso largo que o Brasil se acostumou a ver nas conquistas e tenta levar a ginástica artística às comunidades carentes da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, com o projeto "Brasileirinho". Além disso, Daiane é madrinha do projeto Furnas Educa, que conscientiza crianças e adolescentes sobre conservação de energia, preservação ambiental e prevenção de queimadas.

Reconhecidamente uma das maiores atletas da modalidade no Brasil, Daiane dos Santos foi descoberta por uma professora enquanto brincava em uma praça em Porto Alegre, aos 11 anos de idade, e se destacou rapidamente. Subiu ao pódio duas vezes no Pan-Americano de Winnipeg, no Canadá, em 1999, com apenas 16 anos e, aos 19, passou a integrar a Seleção Brasileira que treinava em Curitiba e a colher os frutos da parceria com o técnico ucraniano Oleg Ostapenko, formador da geração mais vitoriosa da ginástica feminina brasileira.

Daiane está aposentada desde 2012, quando terminou sua participação nos Jogos de Londres, a terceira Olimpíada da sua carreira. Em Atenas-2004, ao som de "Brasileirinho" e lesionada, Daiane apresentou o Dos Santos II, uma extensão do duplo twist carpado, e escreveu novamente seu nome na história da ginástica mundial, terminando na quinta colocação. Ela também disputou a Olimpíada de Pequim-2008.

Além dos projetos sociais, Daiane investe em uma empresa de produção de eventos que leva o seu nome e é comentarista de TV desde 2014. Ela não vai disputar os Jogos do Rio, mas os planos pessoais ainda seguem o ciclo olímpico, como era na época de atleta. Por conta do compromisso como comentarista, adiou o sonho do primeiro filho para depois da competição.

Projetos
A prioridade agora é ter um filho. Depois de tantos anos vivendo em função do esporte, de calendários de competições e de metas, chegou a hora de formar minha família (Daiane namora o o lutador de MMA Ramon Martins).

Rotina pós-aposentadoria
Todo mundo acha que o atleta quando aposenta passa a viver uma vida completamente desregrada. É assim nos primeiros dois meses, é como tirar férias. Você acorda tarde, relaxa na rotina dos exercícios, sai da dieta, mas chega uma hora que dá vontade de voltar a ter um foco na vida. Quando era atleta eu pesava 43 quilos, treinava 9 horas por dia, agora peso 50 e poucos quilos, estou confortável desse jeito... Não tenho mais as restrições alimentares que tinha antes. Vivia de dieta, era muito difícil me manter naquele peso. Tinha de ter um corpo perfeito para praticar a ginástica artística. Agora, eu me exercito cerca de 2 horas, duas vezes por semana. Estou bem com a minha nova fase. Foram quase 20 anos de muita pressão por resultados e para manter o corpo em forma. Tento fazer atividades como pilates ao menos duas vezes por semana, me formei em educação física, então sou professora e acompanho de perto as atividades nos projetos sociais e viajo muito por conta do Furnas Educa também. E de vez em quando mato saudades da ginástica no Pinheiros.

Oleg Ostapenko
Foi o cara que revolucionou a ginástica brasileira. Todo mundo fala que o Oleg era bravo, mas na verdade ele é um doce de pessoa, um amigo fora do ginásio, sou apaixonada pelo Oleg. A origem da ginástica artística é militar. Foi desenvolvida para ser um treinamento de guerra. A disciplina anda de mãos dadas com o esporte desde o início. Além disso, é uma modalidade que exige técnica, senão você pode se machucar. O risco de lesão existe e acompanha o atleta desde o início. Por isso, a necessidade dessa disciplina rígida. Me lembro que no meio do treino todas começavam a chorar juntas (risos), mas era mais uma forma de desabafo pela pressão de uma maneira geral e não por causa do jeito dele de cobrar, das broncas. Uma vez ele disse uma coisa para o nosso grupo que eu nunca esqueci. Estávamos tentando classificar o conjunto brasileiro pela primeira vez para uma Olimpíada, em 2004, ele nos juntou e disse. "Só cobro de vocês dessa maneira porque sei que vocês são capazes. Senão não cobraria". E eu levo os ensinamentos dele para a minha vida pessoal e profissional hoje, tentando ter disciplina e foco.

Doping
O pior momento da minha carreira, sem dúvida. (Em 2009, operada do joelho e afastada da ginástica artística, Daiane dos Santos testou positivo para furosemida, uma substância diurética, proibida pela Agência Mundial de Anti-Dopagem (Wada), que ela usou em um composto para emagrecer). Eu estava afastada, tinha acabado de passar por uma cirurgia, não estava nem treinando, muito menos competindo... Sempre fui muito vaidosa e adoro tratamentos estéticos. Qual mulher não gosta? E, como estava operada e já tinha comunicado meu afastamento a todos os órgãos, achei que não tinha problema. Só que teve. Por uma sucessão de erros, a carta não chegou à Confederação e legalmente eu não estava amparada. Serviu de lição e hoje eu passo essa experiência para os atletas. Você tem de saber sobre tudo que está ingerindo, tudo. Não usei nenhuma substância para me dopar, não houve a intenção de melhorar meu desempenho. Mas a repercussão foi péssima e um verdadeiro pesadelo. Serve também para a minha vida pessoal. Quanta coisa a gente coloca para dentro do nosso corpo sem saber os efeitos colaterais, sejam eles imediatos ou daqui a 10 anos.

Melhor momento
Foram vários momentos maravilhosos na carreira, mas alguns são especiais, como o Mundial de Anaheim (na Califórnia, nos EUA, em 2003, a primeira medalha de ouro do brasil em um Mundial) e a classificação do conjunto para a Olimpíada de Atenas, em 2004. De repente o Brasil tinha milhões de técnicos, todos entendidos de ginástica (risos), as críticas aumentaram, as cobranças também... Mas faz parte. Antes, ninguém conhecia a ginástica e sempre quisemos que as pessoas conhecessem o esporte. Aí, quando elas se interessam, não dá para achar ruim. Procurava ver as críticas na época como uma coisa boa: sinal de que o Brasil estava descobrindo a modalidade.

Rio-2016
Já temos um medalhista de ouro olímpico (Arthur Zanetti, ouro em Londres-2012) e estamos com conjuntos fortes. Acho que vai ser uma olimpíada excepcional para o Brasil. A ginástica é hoje o quinto esporte mais visto no mundo. Temos tudo para fazer o esporte crescer ainda mais no país.

Projetos sociais
Estou me realizando pessoalmente nos projetos sociais. O Furnas Educa é muito bem recebido nas escolas municipais e estaduais. Fazer palestras sobre como fazer do nosso planeta sustentável engaja as novas gerações. As crianças tiram de letra, interagem bem, é muito gostoso. Descobri minha veia educadora.

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