Gaviões critica PM, diz que ‘luta seguirá’ e foge de polarização política

Ao LANCE!, presidente da organizada fala em ação 'truculenta e opressiva' da PM, diz que 'setores poderosos' estão incomodados e afirma que não tomará lado sobre impeachment: ‘Não queriam partidarizar nossos posicionamentos’

Corinthians x Linense
Gaviões tem feito protestos em todos os jogos do Corinthians (Foto: Eduardo Viana/Lancepress!)

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A torcida organizada do Corinthians Gaviões da Fiel acredita estar incomodando "setores poderosos da sociedade" com seus protestos durante os jogos da equipe e promete seguir com as manifestações, mesmo após conflitos recentes com a Polícia Militar após jogos na Arena Corinthians.

Ao LANCE!, o presidente da Gaviões, Rodrigo de Azevedo Fonseca, conhecido como Diguinho, comentou sobre as principais pautas da torcida no momento: a abertura de contas do estádio do Timão, o pedido de uma CPI para investigar a Máfia da Merenda no governo do estado de São Paulo e as críticas à Rede Globo, à CBF e também à Federação Paulista de Futebol:

– Não podemos e nem iremos desistir dessa luta, pois são questões que estão diretamente ligadas as nossas atividades e que interferem diretamente na vida do torcedor. Nossa história não foi interrompida nos tempos obscuros de pau de arara e não será agora, em tempos de democracia, que irão calar a nossa voz. Nossa luta continuará! - diz o mandatário da organizada.

Questionado sobre protestos políticos também no âmbito federal, Diguinho declarou que a Gaviões é a favor da democracia, mas que não se posicionará sobre o processo de impeachment da presidente da república Dilma Roussef. Reforçando a atuação política e social da torcida desde a fundação, em 1969, ele disse:

– Não queiram achar que os Gaviões é um movimento social que deve se posicionar sobre tudo. Temos bem claro nosso objetivo e não queriam tentar partidarizar nossos posicionamentos, não irão conseguir.

Alvo de uma emboscada em um supermercado na capital paulista no início do mês, Diguinho mais uma vez apontou ter indícios de que não foi agredido por membros de outras torcidas e reafirmou a suspeita de uma retaliação por questionar “setores da sociedade que não estão acostumados a serem contestados”.

Protesto Corinthians (Foto: Gabriel Carneiro)
Protesto sobre as contas da Arena Corinthians (Foto: Gabriel Carneiro)

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Rodrigo de Azevedo Fonseca, o Diguinho, presidente da Gaviões


Houve confronto entre torcedores e PMs em dois dos últimos três jogos na Arena. A torcida vê relação entre os dois episódios?
Na realidade não houve confronto. Houve uma ação truculenta e opressiva por parte da Polícia Militar. Não precisamos estender muito o assunto, pois as imagens e os diversos relatos publicados nas redes sociais e em alguns veículos de comunicação transmitiram a dimensão da violência desnecessária empregada na ação policial. E é bom destacar que não foram relatos apenas de torcedores que pertencem a uma torcida organizada, o que por si só já seria o suficiente. Foram muitas pessoas da torcida do Corinthians que estavam em diversos setores do estádio. Não há qualquer justificativa para a utilização de tamanha violência de forma generalizada. É lamentável que, em plena democracia, tenhamos que conviver com ações como essas. O mais lamentável é tal tratamento se tornar rotina, como se fosse algo normal, pois não é. O fato de os episódios ocorrerem na sequência apenas mostra a forma truculenta e opressora como os órgãos do Estado de São Paulo lidam com a livre manifestação popular. As sequências de ações opressoras desde que começamos a protestar nas arquibancadas apenas reforçam essa constatação.

Torcedores ouvidos pela reportagem relataram que a PM preparou uma emboscada. Essa é a mesma versão da organizada?
Convivemos com a presença do policiamento nos estádios há muitos anos. Praticamente toda quarta-feira e domingo acompanhamos o procedimento da segurança nos estádios. Não há a menor dúvida de que a ação adotada pela Polícia Militar no último jogo fugiu completamente do procedimento habitual. Não há nenhuma justificativa para a utilização de tamanha violência como foi empregada de forma generalizada no último jogo. Repetimos: não havia nenhum motivo para tal ação.

Os Gaviões têm feito protestos contra instituições e empresas poderosas. Não temem retaliações?
Sabemos que estamos levantando bandeiras com temas polêmicos e críticos e que, consequentemente, incomodam os tais setores poderosos alvos dos protestos. Mas não podemos e nem iremos desistir dessa luta, pois são questões que estão diretamente ligadas às nossas atividades e que interferem diretamente na vida do torcedor. Nossa história não foi interrompida nos tempos obscuros de pau de arara e não será agora, em tempos de democracia, que irão calar a nossa voz. Nossa luta continuará.

'A defesa da democracia é um posicionamento que faz parte da nossa história. As opressões sofridas pela torcida nos últimos episódios apenas reforçam o quanto o valor da democracia é importante para nós', sentencia Diguinho

Há manifestações pedindo investigações sobre o desvio de verbas da merenda de escolas de São Paulo. A organizada pretende cobrar os órgãos públicos sobre outros temas? Se sim, apenas em âmbito estadual?
Os Gaviões sempre tiveram uma atuação política dentro e fora das arquibancadas. É assim desde a nossa fundação, em 1969. Talvez a novidade que esteja chamando a atenção da mídia e de outros setores da sociedade é o fato de criticarmos abertamente a Rede Globo e a máfia das merendas, cujo deputado Fernando Capez (PSDB) é um dos principais investigados. Capez, enquanto promotor, perseguiu as torcidas por anos, criminalizando e tentando fechá-las. Fez carreira em cima da perseguição hipócrita às torcidas organizadas sem resolver o problema da violência. Ele dizia que bastava fechar as torcidas ou responsabilizar as principais lideranças que resolveria o problema. Capez ganhou notoriedade com o discurso fácil de criminalização das torcidas e agora é o principal alvo do escândalo lamentável da merenda. Esse fato por si só já justificaria nossa revolta e ação. Porém, nossa conscientização vai além. Estamos nos posicionando assim como fizemos recentemente com o apoio à greve dos professores e outros assuntos que atinge nossos associados diretamente, seja como estudantes ou como pai de estudantes da rede pública de ensino. O nosso debate e engajamento a respeito das pautas relativas ao futebol e à sociedade não são novidade. Agora não queiram achar que os Gaviões é um movimento social que deve se posicionar sobre tudo. Temos bem claro nosso objetivo e não queriam tentar partidarizar nossos posicionamentos que não irão conseguir.

Historicamente o Corinthians e sua torcida têm participação ativa em importantes momentos políticos do país. Já há ou haverá alguma atitude em relação ao processo de impeachment da presidente Dilma?
O único posicionamento claro para os Gaviões da Fiel é a defesa da democracia. Nascemos durante a ditadura militar, em 1969, em um período em que combatemos a ditadura dentro e fora do Corinthians. Fizemos parte da luta pela redemocratização do país e esse é um valor claro para nós. A defesa da democracia é um posicionamento que faz parte da nossa história. As opressões sofridas pela torcida nos últimos episódios apenas reforçam o quanto o valor da democracia é importante para nós. Temos um histórico de perseguição e opressão, seria contraditório não defender esse valor. Já tentaram partidarizar nossas recentes manifestações, mas temos muito claro quais são nossos objetivos e todos eles estão relacionados de alguma forma à nossa entidade e ao futebol. Não entraremos nessa polarização em torno do debate político que tem até mesmo dividido o país. Sobre esse assunto respeitamos as opiniões individuais de nossos associados. O único valor que não hesitamos em defender é a democracia.

A organizada já manifestou que suspeita de retaliação nos atos de violência sofridos por dois de seus dirigentes há algumas semanas. Já há provas ou novos indícios?
A única sinalização que temos é que não foi um ataque realizado por outra torcida. O que mais surpreende é a suspeita de que possa ter sido alguma coisa armada. Os motivos para tal desconfiança não deve ser mistério para ninguém. Assumimos uma declarada guerra ideológica com setores da sociedade que não estão acostumados a serem contestados.

A torcida vem pedindo há tempos a abertura das contas da Arena. Agora, com o desdobramento de mais uma fase da Operação Lava Jato, que cita o estádio, as cobranças aumentarão?
Os protestos vão continuar até que as contas sejam divulgadas. Esse já é um posicionamento claro da torcida com ou sem Lava Jato. Obviamente que agora temos mais elementos para analisar e, possivelmente, questionar a diretoria. O fato é que a transparência com as contas do estádio e a política empregada pelo clube para o pagamento deste patrimônio continuarão sendo pautas permanentes da torcida.

O que a torcida pretende fazer caso seja comprovado o pagamento de propinas da Odebrecht na construção da Arena?
Iremos nos posicionar apenas quando tivermos fatos concretos.

O clube já prestou algum esclarecimento à Gaviões sobre as contas da Arena?
Não. Os Gaviões estão justamente cobrando esse esclarecimento nos recentes protestos nas arquibancadas. E nossa cobrança continuará.

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