Salah, CR7, Neymar: foi perdendo duelos que Danilo forjou-se vencedor

Lateral-direito é o segundo personagem da série 'Homens de Gelo', dos convocados da Seleção para a Copa na Rússia. Desde cedo, só encarou feras e virou máquina de títulos

Danilo adquiriu a frieza dos vencedores
(Arte: Jader Ferraz)

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Colômbia, julho de 2011. Em meio às dificuldades encontradas pela Seleção Brasileira no Mundial sub-20, o lateral-direito Danilo, segundo personagem da série "Homens de Gelo" do LANCE!, faz um desabafo singelo entre os companheiros. Até a comissão técnica, chefiada pelo técnico Ney Franco, ouve.

- Todo jogo os caras colocam um cara para correr do meu lado e eu tenho de me desdobrar na marcação. Todo jogo!


Naquele momento, o ainda pouco conhecido lateral de 20 anos lamentava por ter de marcar jogadores como o também desconhecido. mas ligeiro Salah, da seleção do Egito. Não era uma reclamação, mas a percepção de que o sacrifício o impedia de ser mais ofensivo como gostava e marcar mais gols, afinal fora dele, de cabeça, o tento que impediu a derrota brasileira logo na estreia, empate por 1 a 1 com os egípcios. Mal sabia ele a importância de confrontos com jogadores ágeis e ótimos, como Salah viria a ser, para forjar sua personalidade futebolística com o toque de frieza dos vencedores.

Danilo até hoje surpreende quem já o comandou pela velocidade com que chegou ao topo, consumado pela convocação de Tite para a Copa do Mundo na Rússia. Do início no modesto América-MG seguido do título mundial sub-20 para cá, jogou em grandes clubes do mundo, conquistou mais de uma dezena de títulos dos mais importantes, enfrentou os maiores craques e teve também muitos ao seu lado. James Rodriguez no Porto, Cristiano Ronaldo no Real Madrid, Sané no Manchester City, Neymar no Santos e na Seleção. O problema é que esses sempre caem ou caiam pela esquerda, justamente o lado contrário a Danilo. Aí o jeito era apelar para as "pisadinhas", como ele lembrou esta semana em Londres ao falar de Neymar, durante a preparação do Brasil para a Copa.

- Estou desde 2010 tentando parar ele (risos). Sempre enfrentando ele, e ele é muito rápido, você não sabe se ele vai para a direita, então é normal umas duas ou três vezes pisar no pé dele, estou tentando pisar de leve, com um carinho (risos) - brincou Danilo.

O lateral mineiro pode nunca ter conseguido parar Neymar, mas também não parou de crescer. Já são 14 títulos na carreira, o que o coloca como um dos mais vencedores do grupo que vai à Rússia. Tudo isso aos 26 anos. Por ironia do destino, completará 27 no dia 15 de julho, data da final da Copa. Estará lá?


- Claro que ele não é o Daniel Alves, que é de outro patamar, mas esse enfrentamento dele na Europa é o que vai contar na Copa. O Danilo se tornou confiável. Não tinha experiências de decisões e ganhou isso, que com certeza o Tite levou em conta - analisa Muricy Ramalho, técnico de Danilo no Santos quando o lateral ganhou projeção internacional ao conquistar a Libertadores marcando gol na final em 2011.


AFEITO A DECISÕES E TREINOS


Para Muricy não foi surpresa o gol de Danilo na final contra o Peñarol, no Pacaembu, que deu a Libertadores ao Santos após 48 anos. Segundo o técnico, o jogador não sentia o peso das decisões. Ele já havia tido uma demonstração na primeira fase. Quando, sem Neymar e Elano, teve de jogar a continuidade no torneio contra o Cerro Porteño no Paraguai. Danilo foi escalado no meio de campo e teve atuação decisiva, marcando um dos gols da vitória por 2 a 1.

- Ele era um jogador muito tranquilo, não se apavorava, não. Sempre calmo, de não tomar decisões de dar carrinho, essas coisas que poderiam prejudicar - lembra o ex-treinador, que será comentarista na Copa do Mundo pelo canal SporTV.

Quem treinou Danilo antes da decolagem no Santos tem análise parecida. E lembra de outro aspecto que foi decisivo para a construção da trajetória vitoriosa do jogador: a dedicação.

- Ele sempre treinou muito. Morava na concentração do clube, nos juniores. E sempre foi muito dedicado. Fica horas depois do treino fazendo um extra, cobrando falta, fazendo cruzamentos. A dedicação impressionava. Não é à toa que chegou onde chegou - afirma Mauro Fernandes, último treinador de Danilo no América-MG em 2010, na época em que o jogador despertou o interesse do Santos.

MEIA, VOLANTE OU LATERAL? TITE ADORA!

Danilo demorou para se fixar como lateral. Meia de origem, atuou bastante assim no América até ser mais fixado por Fernandes na lateral. Mas sua posição ainda era confusa quando chegou ao Santos. Precisou de ajustes.

- Ele chegou desconhecido, não era muita definida a função dele. Jogava de lateral, na segunda linha, de volante. Era um jogador versátil demais. Mas não era de marcar. E o que mais conversei com ele foi isso: de alternar na subida, marcar mais. Ele era inteligente e se adaptou, apesar que até hoje ainda não é muito de marcar - avalia Muricy.

Mauro Fernandes diz que o colocou na lateral porque na época o América-MG só tinha o experiente Evanilson, com passagens pela Seleção, para atuar na posição. Sorte de Danilo, que provavelmente não teria espaço hoje na Seleção se não fosse na lateral.


- A própria qualidade dele pra jogar foi que chamou atenção, me fez colocar na lateral. Ele sempre foi muito versátil. Quando passava do meio, tinha liberdade, flutuava. Acabou se destacando muito - conta Mauro.

A partir do Porto, em 2012, Danilo não voltou mais ao meio de campo. No caminho, aprendeu com grandes mestres, como Julen Lopetegui, atual treinador da Espanha, Zinedine Zidade no Real e Pep Guardiola no Manchester City. O técnico mais badalado do mundo pediu a contratação do atleta e o revezou entre as laterais esquerdas e direita. Sorte de Tite, que levou em conta toda essa bagagem para fazê-lo substituto de Dani Alves, desbancando Fagner. Danilo entra no que a comissão técnica chama de "constância", pelo acúmulo de experiências de grande enfrentamento na carreira. Começou neste domingo contra a Croácia, no amistoso de preparação em Liverpool. Será que a frieza de vencedor de Danilo agradou?

- Danilo jogou muito. Jogou muito! As ações defensivas de cobertura beiraram à perfeição. E as ultrapassagens no tempo exato. Não queiram trazer as habilidades de Marcelo. Vai ter força e sustentação. Não vamos querer que ele construa igual o Marcelo, porque ninguém constrói igual o Marcelo. Mas ele jogou muito - disse o treinador após a vitória por 2 a 0 em Anfiel.

Lá em 2011, Danilo não queria ser Marcelo, só que jogadores habilidosos não caíssem pelo seu lado. Hoje, parece acostumado e até brinca com isso. É bom mesmo, porque na Copa as feras estarão soltas pela Rússia, inclusive pelos lados de Danilo, um dos 23 "homens de gelo" de Tite.

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