Orgulho intacto! Inglaterra não se abala e volta mais forte para casa

Desacreditada até pelos próprios jogadores antes do início da Copa do Mundo, seleção vai  bem com elenco jovem e promete dar trabalho no Qatar, em 2022

Inglaterra x Croácia
Caiu de pé! Inglaterra deixa a Copa mais forte do que entrou (Foto: Franck Fife / AFP)

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A Inglaterra deixa a Copa do Mundo de "cabeça erguida". A vaga na final não veio, mas o orgulho dos jogadores em representar bem a nação não foi ferido. A derrota por 2 a 1 para a Croácia, na última quarta-feira, evitou a possibilidade do bicampeonato, mas resgatou o sentimento de dever cumprido na seleção.

Desacreditada, a Inglaterra chegou à Rússia com um elenco jovem, com média de idade pouco superior a 26 anos. A terceira mais inexperiente entre todas as 32 seleções.

Um dos mais "velhos" do grupo convocado pelo técnico Gareth Southgate, Kyle Walker, de 28 anos, afirmou, em meados de abril, que vencer a Copa do Mundo seria um "milagre" para a Inglaterra. Para ele, as quartas de final já estariam de bom tamanho.

- Temos que ser realistas. Tem muito times bons lá, e nosso retrospecto nos torneios não tem sido fantástico. Temos conversado muito em campo. A Inglaterra não vence um jogo de mata-mata Deus sabe lá há quanto tempo. Então se formos lá e vencermos um jogo de mata-mata, seria um grande passo - declarou à época, à rádio "TalkSPORT", antes de completar:

- Espero que a gente possa chegar o mais longe possível. Vencer a Copa do Mundo seria um milagre. Temos os jogadores para isso. Muitos de nós jogamos provavelmente na melhor liga do mundo, mas temos a experiência para chegar longe nessas competições? Não, não temos. Não nos últimos anos.

Walker - Inglaterra x Croácia
Walker foi titular na defesa inglesa (Foto: Manan Vatsyayana / AFP)

Walker expressou o sentimento que rodeava a imprensa e os torcedores. Os últimos resultados da Inglaterra em competições importantes ratificavam o pessimismo. Fracassos e mais fracassos. Na Copa do Mundo de 2014, a pior campanha da história, com duas derrotas e um empate, e o fim da trajetória de dois ícones na seleção: Steven Gerrard e Frank Lampard. A dupla não passou das quartas de final de um Mundial pelos Three Lions.

Apesar da pífia participação no Brasil, a Inglaterra manteve Roy Hodgson no comando. Dois anos mais tarde, outra decepção: eliminação nas oitavas de final da Eurocopa para a modesta Islândia, estreante na competição.

Rooney e Roy Hodgson - Inglaterra x Islandia
Hodgson e Rooney contra a Islândia (Foto: Tobias Schwarz / AFP)

Desta vez, a Federação Inglesa de Futebol demitiu Hodgson. Sam Allardyce foi anunciado em 22 de julho de 2016, após a competição continental. Dois meses depois e com apenas um jogo no currículo à frente do English Team, ele pediria demissão por conta de envolvimento em um esquema para burlar regras de transferências no país. Treinador do sub-21, Gareth Southgate assumiu interinamente o cargo, sendo efetivado em seguida.

EQUIPE DIFERENTE NO INÍCIO

A equipe de Southgate foi sendo moldada ao longo de dois anos. No início, era bem diferente do que foi à Copa do Mundo. Nomes como os dos goleiros Forster, Hart e Heaton; dos defensores Bertrand, Clyne, Jagielka e Keane; dos meias Drinkwater, Wilshere e Lallana; e dos atacantes Rooney, Walcott, Townsend e Sturridge faziam parte da lista. Ao todo, 14 jogadores distintos do que disputaram o Mundial.

Experiente, Rooney estava nos planos, apesar de não viver boa fase na carreira. Em agosto de 2017, Southgate voltou a convocar o atacante, maior artilheiro da seleção, com 53 gols em 119 jogos, para jogos das Eliminatórias. Para surpresa de todos, o camisa 10, que acabara de trocar o Manchester United pelo Everton, recusou o convite e se aposentou da equipe nacional. Era a deixa para se apostar nos garotos.

Rooney - Inglaterra
Rooney deixou a seleção em agosto de 2017 (Foto: Ian Kington / AFP)

- Foi ótimo que Gareth Southgate tenha me chamado esta semana e dito que me queria de volta no elenco da Inglaterra para as próximas partidas. Eu realmente agradeço. No entanto, tendo pensado bastante, disse a Gareth que eu havia decidido me aposentar do futebol internacional. Foi uma decisão difícil, discuti isso com minha família, meu treinador no Everton e com aqueles mais próximos de mim - disse Rooney, à época.

Southgate conhecia os jovens, pois era treinador das camadas inferiores. Sabia onde moldar e como lapidar as joias que tinha em suas mãos. Assim, promoveu a reformulação do elenco. No Qatar, em 2022, esta geração estará mais experiente e promete dar ainda mais trabalho aos adversários. O primeiro passo foi dado e com êxito.

SOUTHGATE ELOGIA JOGADORES

Após a derrota para a Croácia na semifinal, o sentimento de "dever cumprido" foi passado pelo treinador na entrevista coletiva. Apesar de reconhecer que era uma chance incrível de chegar à final e buscar o bicampeonato, ele só foi elogios aos jogadores.

- Ninguém esperava chegar tão longe. E chegar aqui e jogar tão bem quanto jogamos no primeiro tempo... É incrível o que este grupo de jogadores fez. E a reação da torcida comparada há dois anos mostra que as coisas podem ser positivas. O país está orgulhoso do resultado e de como chegamos. Com o tempo vamos tirar boas lições disso. Mas ainda precisamos sofrer um pouco. Eu estou incrivelmente orgulhoso do que eles fizeram. Eles quebraram uma grande quantidade de barreiras nos últimas semanas.

Harry Kane (Inglaterra)
Kane, de 24 anos, foi o capitão (Foto: JUAN MABROMATA / AFP)

Os jogadores, de fato, quebraram algumas marcas importantes para a Inglaterra. Nas oitavas de final contra a Colômbia, a seleção venceu pela primeira vez nos pênaltis após três eliminações consecutivas em mundiais. Depois de 28 anos, a equipe chegou a uma semifinal, feito que havia conseguido pela última vez em 1990. Harry Kane pode se tornar o segundo goleador inglês da Copa na história. O primeiro e único até o momento foi Gary Lineker, em 1986.

- O progresso que tivemos em desempenho e união do grupo foi muito positivo. Um time inexperiente como o nosso tem que passar por coisas assim para ficar melhor. Até virar um time vencedor, precisa passar por barreiras como as que enfrentamos nas últimas semanas. É preciso reconhecer que seria uma ótima oportunidade para nós. Mas queremos ser um time que vai chegar em semifinais, finais, quartas de final. Provamos que é possível. Provamos para nós mesmos e para o nosso país. Agora temos um novo nível de expectativa. Eles ainda vão ficar mais experientes em nível internacional. Eu não poderia estar mais orgulhoso do que eles fizeram - declarou Southgate.

"HERÓIS" DO POVO E DA IMPRENSA

A mídia local fez questão de reverenciar os jogadores pela boa participação na Copa do Mundo. Eles foram chamados de "heróis", e a decepção pela derrota de virada para a Croácia ficou longe do foco dos noticiários.

Apesar do revés, a imprensa inglesa ficou ao lado da equipe. O jornal "Mirror Sport" retratou os atletas como "tesouros nacionais". O "Daily Mail" elogiou o esforço dos jogadores.

O "The Telegraph" colocou em sua primeira página "Mantenha a cabeça erguida". Já o "Guardian" falou do sentimento dos torcedores: "o sofrimento continua".

No próximo sábado, a Inglaterra jogará a decisão do terceiro lugar com a Bélgica, às 11h (de Brasília), em São Petersburgo.

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