Copa Tática: Tunísia é um azarão que gosta da bola

Seleção chega à Rússia para a Copa do Mundo sem nomes famosos na equipe. Aposta do treinador é na movimentação dos homens de frente

Tunísia x Irã
AFP

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Entre 1996 e 2006, a Tunísia viveu seu melhor momento no futebol. Disputou três Copas seguidas, foi campeã continental e chegou a outras duas semifinais na África. Não era um time encantador, mas contava com o brasileiro Francileudo Santos como goleador. Entre os poucos jogadores conhecidos nas principais ligas, estavam Hatem Trabelsi, Mehdi Nafti e Radhi Jaïdi. Sem grandes protagonistas, o país virou referência de jogo pragmático, mas passou os últimos 10 anos sem conseguir bons resultados.

Apesar da queda, a Tunísia conseguiu o status de cabeça de chave no sorteio dos grupos das eliminatórias, com um ranking melhor que Egito e Nigéria. Para completar, escapou dos adversários mais temidos. Assim, a disputa ficou polarizada com a República Democrática do Congo, que possui até mais atletas conhecidos, já que tem tido grande entrada no futebol inglês nos últimos anos. E foi exatamente o confronto direto que definiu a classificação: 2 a 1 em casa e 2 a 2 fora, buscando um 0 a 2 nos 15 minutos finais.

Como em outros momentos da história, a Tunísia chega a um grande torneio sem nomes midiáticos. Mas a proposta de jogo já apresenta modificações importantes. Nabil Maaloul assumiu o comando da seleção em abril de 2017. Pegou uma seleção que atuava com três zagueiros e mudou o sistema para uma linha com quatro na defesa. Mais do que isso, aposta na movimentação dos homens de frente.

Dois episódios são extremamente importantes em 2018. O primeiro é o teste com Khazri no ataque. Referência técnica da equipe, o meia fez sucesso no Bordeaux mas não correspondeu às expectativas após a transferência para o Sunderland. Em geral, parte dos lados para armar o jogo por dentro, buscando passes decisivos. Mas a novidade de Maaloul foi escalá-lo como falso 9. Como não há um centroavante confiável e Khenissi está fora da Copa por lesão, o técnico aposta de vez na movimentação e na capacidade de Khazri para buscar espaços, confundir a marcação e se associar com os outros meias que se aproximam. Aí vem o segundo episódio: a lesão de Youssef Msakni. O ponta do Al-Duhail é um dos nomes mais importantes da Tunísia na atual década.

Driblador, é quem tenta algo diferente arrancando da esquerda em direção ao gol. Recebeu o prêmio de melhor jogador do campeonato do Catar em 2017/18 e é também o maior goleador em atividade na seleção. O desfalque pesa e tira uma das principais armas ofensivas do país. Nas palavras do técnico, seria como a Argentina sem Messi.


Sem Msakni, outro nome pode despontar: Naïm Sliti. Ainda sem grande experiência na seleção, o meia estreou pela Tunísia em 2017, mas ganhou destaque no interessante modelo ofensivo do Dijon, na Ligue 1. Driblador, pode preencher o corredor esquerdo ou trabalhar centralizado em um 4-2-3-1. Sua conexão com Khazri é o que a seleção tem de melhor a oferecer, desde que o camisa 10 recupere sua melhor forma física, já que não participou dos amistosos de preparação por causa de lesões.


O resto da composição do setor ofensivo já traz mais dúvidas. Badri e Khaoui podem alternar posições na linha dos meias. Chaalali e Srarfi são outras opções que podem entrar durante os jogos. No centro do campo, Ben Amor é peça importante, mas surpreendentemente ficou no banco nos amistosos antes da Copa. Embora seja frequentemente escalado como o jogador mais recuado do meio, gosta do passe longo e de se de projetar. Sua companhia já varia de acordo com a formação escolhida. A Tunísia pode adotar o 4-2-3-1 ou o 4-3-3, o que significaria introduzir um meio-campista a mais. Sassi e Skhiri seriam os dois nomes mais cotados. Skhiri fez boa temporada no Montpellier e também acrescenta na distribuição, além ser uma arma para as finalizações da entrada da área. Por isso, embora não tenha feito parte das eliminatórias (estreou na seleção em 2018), pode ganhar cada vez mais espaço entre os titulares.

Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, a Tunísia é uma seleção que gosta de ter a bola. E até se expõe ao tentar ocupar o campo adversário. Os três meias buscam aproximação, Khazri tenta abrir espaço e os laterais se projetam para abrir o campo. Na linha de defesa, a referência é Ali Maaloul. O lateral esquerdo é um dos principais jogadores em atividade no futebol africano. Porém, duas dúvidas são inevitáveis: a incerteza sobre um setor defensivo pouco testado no mais alto nível e qual o nível de risco a equipe estará disposta a correr na Copa do Mundo. Seu estilo de jogo é interessante, com velocidade para transformar as roubadas de bola em chances. Outro ponto é se a circulação de bola no campo de defesa será boa o suficiente para evitar erros que fatalmente geram chances claras.

Será um grupo em que a Tunísia terá estilos bem diferentes de adversários. Contra o Panamá, provavelmente terá a bola e enfrentará a força física como obstáculo. Contra a Bélgica, possivelmente terá seu menor índice de posse de bola e precisará se defender por mais tempo do que nas eliminatórias, mas com a arma dos contra-ataques. E contra a Inglaterra talvez possa dividir a iniciativa, podendo variar taticamente para três zagueiros, formação que agrada o treinador.

Jogos no Grupo G
​18/6 - 15h - Tunísia x Inglaterra
​23/6 - 9h - Bélgica x Tunísia
28/6 - 15h - Panamá x Tunísia

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