‘Europeus’ x ‘brasileiros’: as listas da Seleção nas Copas ao longo do tempo

Apenas três jogadores que atuam no Brasil vão à Rússia. Cenário começou a ser mais comum na década de 90. Antes, o grupo era predominante de atletas que atuavam no país

Cássio, Fagner e Geromel serão os representantes de clubes brasileiros na Copa do Mundo da Rússia
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Nenhuma novidade. A lista dos 23 nomes apresentada por Tite nesta segunda-feira que vão representar o Brasil na Copa do Mundo da Rússia é amplamente dominada por clubes europeus. Apenas três atuam no futebol brasileiro: Cássio e Fagner, do Corinthians, e Geromel, do Grêmio. Um cenário que se iniciou tímido a partir dos anos de 1980, mas que partiu para a "solidificação" na década seguinte. Nas últimas Copas, o número de "brasileiros" foi baixo.

O LANCE! mostra como esse contraste entre "atletas do Brasil x atletas da Europa" nas convocações da Seleção começou de uma maneira totalmente predominante de clubes nacionais, e hoje é amplamente ocupada por gigantes do Velho Continente.

PRIVILÉGIO PARA OS CLUBES DO BRASIL
​As convocações da Seleção Brasileira, seja para amistosos ou torneios importantes, como a Copa do Mundo, eram feitas para atletas que jogavam no Brasil. A antiga CBD, que atualmente era CBF, privilegiava os jogadores que atuavam no país.

Além disso, antigamente não era comum a saída de grandes nomes do nosso futebol para os principais centros da Europa. Sendo assim, os principais craques do Brasil atuavam dentro de casa. No entanto, existiram exceções e que exemplificam esse modelo.

Evaristo de Macedo, que fez nome no Barcelona e no Real Madrid, perdeu a chance de integrar o time que faturou a Copa de 1958 justamente por atuar fora do país. O mesmo ocorreu com o zagueiro Luís Pereira. Titular no Mundial de 1974, quando atuava no Palmeiras, não foi chamado quatro anos depois por Cláudio Coutinho por defender o Atlético de Madrid (ESP). O torneio disputado na Argentina foi, inclusive, o último a ter uma Seleção com 100% de atletas que atuavam no Brasil.

DÉCADA DE 1980: O INÍCIO DA ENTRADA "EUROPEIA"
​A Copa do Mundo de 1982 foi o "pontapé" inicial para a entrada de jogadores brasileiros que atuavam fora. Aos poucos, os grandes nomes foram tentar a sorte na Europa. Contudo, as convocações, sobretudo para Mundiais, ainda foram de predomínio dos clubes brasileiros.

Para se ter uma ideia, nas edições de 1982 e 1986, apenas quatro jogadores dos 22 convocados atuavam fora do Brasil. Na edição da Espanha, apenas Falcão, que defendia a Roma (ITA), e Dirceu, do Atlético de Madrid, foram os únicos estrangeiros. Quatro anos depois, foi a vez de Edinho e Júnior, dos italianos Udinese e Torino, respectivamente, darem continuidade ao rito.

DÉCADA DE 1990
A Copa da Itália inicia a virada de jogo dos "atletas da Europa".  Afinal de contas, 12 dos 22 nomes levados por Sebastião Lazaroni já atuavam fora do país. Quatro anos depois, Carlos Alberto Parreira praticamente dividiu igualmente essa equação, uma vez que dos 23 chamados, 11 atuavam em solo nacional. O resultado: tetracampeonato

Na França, em 1998, o sinal de que as futuras convocações seriam, como são hoje, amplamente dominadas por "europeus": apenas oito jogadores atuavam no futebol brasileiro.

ANOS 2000: UMA SELEÇÃO "EUROPEIA"
​Em meio a um futebol amplamente globalizado, e com os clubes europeus com alto poder financeiro e tirando cada vez mais jogadores do Brasil, não era difícil imaginar que seria cada vez mais complicado a concorrência dos jogadores que atuavam no país entrarem nas listas de Mundiais. No entanto, 2002, ano do penta, fugiu a esse cenário cada vez mais frequente.

Felipão levou 13 jogadores que atuavam no Brasil, contra 10 que jogavam no futebol europeu. Foi a última vez em que essa relação mostrou equilíbrio e teve a "vitória" brasileira. A partir de 2006, o que se viu foi uma verdadeira escassez de nomes que atuavam no nosso futebol.

Um dado curioso: do Mundial da Alemanha para cá, essa lista minguante (três atletas em 2006 e 2010, quatro em 2014) geralmente possui o goleiro (exceção na edição da África do Sul). Na Copa do Brasil, do grupo nacional eleito, dois eram atletas do gol. Mas em todos os casos nenhum deles eram titulares.

Para a Rússia, Tite repetiu o rito. Um cenário que deve ser cada vez mais comum no futuro e que escancara a fragilidade financeira de nossos clubes, uma vez que quase não conseguem segurar nossos melhores jogadores no Brasil.

A RELAÇÃO "BRASIL X EUROPA" EM MUNDIAIS
​1930 a 1978 - Jogadores que eram chamados atuavam no Brasil.

​1982 - Zico, Sócrates e outros 18 jogadores atuavam no país. Apenas Falcão e Dirceu atuavam na Europa. 

1986 - No México, Júnior e Edinho eram os "estrangeiros" da lista de Telê Santana.

1990 - O início da mudança. Pelo lado brasileiro, Taffarel (Inter), Acácio, Bismarck, Bebeto, Mazinho e Tita (Vasco), Zé Carlos e Renato Gaúcho (Flamengo), Ricardo Rocha (São Paulo) e Mauro Galvão (Botafogo) foram os representantes. No lado europeu, nomes como Careca, Müller, Valdo, Jorginho entre outros.

1994 - Equilíbrio. Pelo lado nacional, foram chamados Zetti, Cafú, Leonardo e Müller (São Paulo), Zinho e Mazinho (Palmeiras), Gilmar (Flamengo), Ricardo Rocha (Vasco), Branco (Fluminense), Viola (Corinthians) e um certo Ronaldo (Cruzeiro) que mais tarde seria um Feômeno. Na ala europeia, Romário, grande nome daquele Mundial, Bebeto, Jorginho, Taffarel entre outros eram os integrantes.

1998 - Apenas oito jogadores atuavam no país. Zagallo convocou Júnior Baiano e Zé Roberto (Flamengo), Bebeto e Gonçalvess (Botafogo), Zé Carlos (São Paulo) e todos os goleiros: Taffarel (Atlético-MG), Carlos Germano (Vasco) e Dida (Cruzeiro). O restante vinha do Velho Continente, como Ronaldo, Rivaldo, Leonardo, Aldair, Cafú, Roberto Carlos, Dunga, entre outros.

2002 - Último ano de supremacia dos clubes brasileiros. Luiz Felipe Scolari chamou treze atletas. Novamente os três goleiros (Marcos- Palmeiras, Dida-Corinthians, Rogério Ceni-São Paulo), Anderson Polga e Luizão (Grêmio), Beletti e Kaká (São Paulo), Vampeta e Ricardinho (Corinthians), Kléberson (Atlético-PR), Gilberto Silva (Atlético-MG), Juninho Paulista (Flamengo) e Edilson (Cruzeiro). Mesmo em "menor número", os europeus tinham Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Roberto Carlos, Cafú entre outros.

2006 - O início da supremacia "europeia". Apenas três jogadores que atuavam no Brasil foram chamados por Parreira: Rogério Ceni e Mineiro (São Paulo) e Ricardinho (Corinthians). Vale lembrar que o volante do Tricolor paulista foi convocado depois, devido ao corte de Edimilson. Todo o restante foi fornecido por clubes europeus, como Ronaldo, Kaká, Adriano, Ronaldinho Gaúcho...

2010 - Dunga repetiu a quantidade para a África do Sul. Apenas Gilberto (Cruzeiro), Kléberson (Flamengo) e Robinho (que pertencia ao City, mas estava emprestado ao Santos) jogavam no Brasil. Todo o restante, incluindo os três goleiros, Kaká, Lúcio, Julio Cesar, Gilberto Silva e demais atuavam no futebol europeu.

2014 - Para a Copa dentro de casa, Felipão aumentou a "cota" dos clubes brasileiros e um jogador em relação as duas últimas edições. Sendo assim os goleiros Jefferson (Botafogo), Victor (Atlético-MG), Jô (Corinthians) e Fred (Fluminense) foram os representantes nacionais. Os demais, incluindo Neymar, que já atuava na época pelo Barcelona, foram fornecidos por clubes do Velho Continente.

2018 - Apenas três jogadores que atuam no país foram lembrados por Tite: Cássio e Fagner (Corinthians), e Geromel (Grêmio). Dedê (Cruzeiro) está na lista de espera.

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