Ex-Timão conta por que chegou a desistir do futebol e quer ficar no Grêmio ‘para sempre’

Campeão brasileiro com o Corinthians, Edilson conta ao L! como superou turbulências na carreira para se firmar no Tricolor Gaúcho: quer ficar no Sul depois de parar de jogar

Jogo contra o Palmeiras foi um dos melhores de Edilson com a camisa do Grêmio até aqui
(Foto: Lucas Uebel/Flickr Grêmio)

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Numa quinta-feira à tarde, Edilson atende o telefone no primeiro toque e logo reclama do frio de Porto Alegre - fazia pouco mais de 3 graus na capital gaúcha. A baixa temperatura é a única coisa a incomodar o lateral-direito do Grêmio, plenamente satisfeito com o momento de sua carreira e a vida no Sul do país.
Campeão brasileiro com o Corinthians no ano passado, com passagens por Atlético-MG e Botafogo, e hoje em ótima fase, o defensor já pensou em desistir do futebol. E de fato desistiu por alguns meses.

Foi em 2008, quando teve os primeiros contatos com turbulências nos bastidores. Estava no Avaí, de Florianópolis, e mal sabia que anos depois de ser 'resgatado' por Gilmar Dal Pozzo iria enfrentar novos problemas no Alvinegro do Rio de Janeiro e seria duramente criticado no Alvinegro de São Paulo.

- O ano de 2008 foi realmente diferente. Na real, eu sai do Avaí e pensava em parar de jogar futebol. Foi então que um ex-jogador meio que me resgatou. Gilmar Dal Pozzo... Eu tinha jogado com ele em 2004, também no Avaí, então ele me chamou para umas partidas no Veranópolis. Fiquei dois meses lá, e como já estava em Santa Catarina, um outro amigo me chamou para atuar em uns jogos do Catarinense pelo Guarani de Palhoça. Foram seis jogos, fiz seis gols e fui para a Ponte Preta, mas também foi complicado, porque lá não podia jogar, já tinham me vinculado a outros dois clubes - fala, em longa conversa telefônica com a reportagem do LANCE!, e completa:

- Tudo aconteceu porque acho esse meio um pouco sujo. Na verdade, bem sujo. Eu me decepcionei muito. Questão de empresário mesmo, sabe? Eu tive a oportunidade de ir para a Alemanha e não fui por causa de empresário. Eu não me arrependo de ter parado de jogar um pouco, de ter pensado nisso, porque sou um cara de personalidade forte, naquele momento achava que não era a coisa ideal.

"A torcida do Corinthians pegava no meu pé demais, sim, mas é muito vibrante, faz parte isso. Não foi um dos motivos que me fizeram sair, não" 

O 'sujo' de Edilson não se resume a conflitos com empresários ou falcatruas no meio do futebol, tem a ver também com as injustiças que afirma ter sido vítima. Principalmente no período em que esteve no Corinthians. Com a torcida insatisfeita com seu futebol à época, se sentiu massacrado por críticas e virou até piada na internet, apelidado de 'cachaça'. Embora afirme que esse tipo de percalço faz parte da vida do jogador de futebol, não se arrepende da discussão que teve com o dono do perfil 'Corinthians Mil Grau' em fevereiro desde ano.

- Não me arrependo, não. Falei o que estava sentido na hora, ele faltou com respeito comigo. Eu acredito que sim, a torcida me cobrava demais. Mas, mesmo assim, é muito vibrante, pegava um pouco no pé, né? Mas não foi um dos motivos que me fizeram sair, não - reclama. Na confusão em questão, o Timão estava no Chile para a disputa da primeira fase da Copa Libertadores e o dona da página online estava junto com a delegação fora do país. Antes de entrar no ônibus do time, o lateral apontou o dedo para o rapaz e reclamou sobre as zoações da internet. O garoto não reagiu, mas postou o vídeo no Youtube pouco depois. 

O entrevero só foi mais um pelos quais Edílson já passou. Em outubro de 2014, junto com Emerson Sheik, Bolívar e Júlio César, foi dispensado do Botafogo pelo presidente Maurício Assumpção justamente por discordâncias com a diretoria. Os quatro eram então os principais jogadores do Glorioso.

- O presidente era completamente amador, ele ficou quatro meses sem ir no clube. Depois de todas as besteiras que ele fez, a solução era tirar a gente. Estávamos jogando sem salário, nos doando ao máximo para o clube não cair, a gente sabia que se caísse, a culpa ia ser dele. O pior era ver os funcionários do clube passando por dificuldades. A gente arrecadava cesta básica, não tinham dinheiro nem para comer direito... Mas aprendi muito, foi algo de superação, sabe?

"Tite e Roger (Machado) são dois estudiosos do futebol, e mais do que isso, olham no olho do jogador para falar e cobrar, isso é o que todo atleta procura, essa sinceridade no trabalho de seu técnico"

Passados os problemas, o momento agora é de afirmação. Titular do Grêmio em seis das sete partidas disputadas até aqui no Campeonato Brasileiro, quer ficar 'para sempre' no clube que lhe abriu as portas pela segunda vez - a primeira passagem aconteceu em 2010. Depois de terminar 2015 atuando pelo então campeão brasileiro, Edílson se vê evoluindo e, por enquanto, acredita ter tomado a melhor decisão possível.

- Troquei o Corinthians pelo Grêmio muito também pelas chances de ser campeão aqui esse ano. Tem totais condições para isso. A vida aqui é muito boa, minha esposa é daqui, meus amigos também, pretendo morar em Porto Alegre até depois que parar de jogar futebol. Sinto que estou evoluindo, mas espero viver meu melhor momento aqui. Tenho três anos de contrato e se eu pudesse ficar o resto da minha vida aqui, não reclamaria...

Confira outros pontos da entrevista com Edilson:

Vida no Sul
No quesito frio, acho que todo jogador sente um pouco nos dedos, na chuteira. Acho que o pé é onde a gente sente mais, mas faz parte. Acho que a estrutura aqui no Grêmio mudou muito, o clube evoluiu demais. E fora de campo, aprendi a tomar o mate quente deles, chimarrão. Por se paranaense, tomava mais tereré, que é gelado, aqui não dá, né? (Risos).

Semelhanças entre Roger Machado e Tite
Eu vejo que taticamente são dois estudiosos, vivem muito o futebol no dia a dia, se dedicam bastante acho que muito por gostar mesmo do esporte. São pessoas muito do bem, olham diretamente no olho do jogador para falar as coisas, acho que é isso que todo atleta quer e busca. Para cobrar, precisa ter esse respaldo, de trazer coisas sinceras e não falar por falar.

Se sentia à vontade no Corinthians?
Sim, mais pelo grupo, pelo Tite. Mas aqui estou realmente em casa. É um clube que gosto. Aprendi a gostar desde minha primeira passagem. Vim exatamente para onde eu queria. Cássio foi um grande amigo meu no Corinthians, super do bem, pessoa simples. Vou levar para toda a vida.

Futebol é injusto?
No Brasil, é um pouco, sim. Principalmente com seus ídolos. Tive a oportunidade de trabalhar com (Paolo) Guerrero. Ele saiu meio que vaiado. Teve Flamengo e Corinthians e ele foi vaiado. O cara é ídolo e foi vaiado dentro do próprio clube. Mas, a gente tem que respeitar, esse é o jeito do brasileiro.

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